“Boa sorte” ou “Má sorte”

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 07/04/2019
Horário 09:00

O argumento desta crônica está em “liberto de tudo” (Carlos Vallés) cujo centro é “Anthony de Mello: um profeta para o nosso tempo”. Ressalvo que o indiano Padre Anthony de Mello, jesuíta, recebeu uma notificação da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé no ano 1998, apontando tópicos do seu ensinamento, próximos do budismo, como “incompatíveis com a fé católica e [que] podem causar graves danos”. Entretanto, na esteira do conselho paulino de verificar tudo e discernir aquilo que é bom, acho oportuna a reflexão que segue.

A paz espiritual seria decorrência de uma paz psicológica, advinda de uma consciência reta, bem formada, livre dos rigores, escrúpulos, temores e preconceitos. Sabemos por experiência que cada pessoa é única e estar diante de uma, aqui e agora, com o seu problema nos desafia a acolher cada qual na sua justa manifestação ‘sem hipóteses, conjecturas, situações artificiais nem possibilidades abstratas’. Quiçá por pressa, queremos amiúde apresentar um juízo sobre a conduta do outro. Nem sempre permitimos ao outro ser aquilo que é, sente e pensa de si. A liberdade da pessoa acima de tudo. ‘Cada pessoa deve dirigir a sua própria vida’.

Mello tinha um princípio geral configurado numa regra simples e prática: “não prejudique a ninguém e ajude quem você puder”. Por questão de espaço, não avançarei nos questionamentos a esse princípio. Conto-lhe a mais conhecida história de Tony.

Na China, um velho fazendeiro tinha um cavalo velho para arar os campos. Um dia, o cavalo fugiu para as colinas; e, enquanto todos os vizinhos do fazendeiro se solidarizavam com o velho homem por causa de sua má sorte, ele replicou: ‘Má sorte? Boa sorte? Quem sabe?’ Uma semana depois o cavalo voltou com um rebanho de cavalos selvagens, o filho do fazendeiro caiu do seu lombo e quebrou a perna. Todos pensaram que era muita má sorte. Mas não o fazendeiro cuja única reação foi: ‘Má sorte? Boa sorte? Quem sabe?’ Semanas depois, o exército entrou na cidadezinha e recrutou todos os jovens aptos que encontrou. Quando viram o filho do fazendeiro com a perna quebrada, eles o deixaram de fora. Ora, isso era ‘Má sorte? Boa sorte? Quem sabe?’ Tudo o que parece na superfície um mal pode ser um bem disfarçado. E tudo o que parece um bem na superfície pode ser, na verdade, um mal. Agimos sabiamente quando deixamos Deus decidir o que é boa sorte e o que é má sorte e lhe agradecemos porque todas as coisas se convertem em bem para aqueles que o amam.

O ponto central da história tem a ver com a nossa moralidade e com o nosso comportamento. Amar a Deus e amar o próximo parecem traduzidos na sua máxima “não prejudique a ninguém e ajude quem você puder”. O fato de não sabermos o que é bom e o que é ruim para ninguém, em meio às nossas limitações, deve dar-nos uma grande paz no momento de tomarmos uma decisão. Afirmava Tony: “não devemos levar muito a sério as nossas vidas, as nossas decisões, os nossos fracassos e nem mesmo os nossos erros morais e os nossos méritos exaltados. Façamos o que fizermos com o coração leve e a mente feliz, e tudo acabará bem. ‘Má sorte? Boa sorte? Quem sabe?’

“Não sabemos o que é bom ou ruim para nós nem para qualquer outra pessoa, mas continuamos a fazer alegremente aquilo que nos parece mais apropriado em cada circunstância, sem um peso na mente nem uma preocupação no coração” (Vallés).

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

 

 

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