O bom filho a casa torna! Um dos mais prestigiados jovens coreógrafos brasileiros, o prudentino Luiz Fernando Bongiovanni Martins que produz trabalhos para grandes companhias no Brasil e no exterior, chega a sua terra natal com “Breve Compêndio para Pequenas Felicidades”, do Núcleo de Pesquisa Mercearia de Ideias, a qual ele dirige. O espetáculo de dança será apresentado, gratuitamente, às 21h, desta sexta-feira, no Teatro Paulo Roberto Lisboa, no Centro Cultural Matarazzo, com a companhia convidada do Enac 22 (Encontro das Artes do Corpo). No mesmo dia será ministrada uma Oficina de Improvisação e Composição, das 10h às 12h, para bailarinos locais. Felicidade é o tema de espetáculo que foge do senso comum ao trabalhar a individualidade de cada intérprete e sua própria relação com o tema. Mostra, assim, que não é preciso sorrir para ser feliz. Este trabalho de pesquisa foi contemplado com o edital de Fomento à Dança de 2016, da SEC (Secretaria Municipal de Cultura) de São Paulo. No mesmo ano, recebeu o Prêmio Denilto Gomes, foi indicado ao APCA de melhor espetáculo e ao Prêmio Guia da Folha.
*retirada de ingressos na bilheteria com 1 hora de antecedência.
Luiz Fernando como é o bom filho voltar a sua casa?
Eu fico feliz em poder estar na cidade rever a família e os amigos. Prudente é a cidade que cresci e tenho memórias bem bacanas, então voltar e levar meu grupo para se apresentar nela tem um quê de nostalgia. E em especial no Matarazzo, que era um lugar onde a gente que fazia teatro com o Fábio Nougueira, na década de 80, olhava e sonhava que virasse um centro cultural! E não é que virou?!
Como você vê a dança na cidade?
Eu acho que a área da dança tem potencial para crescer em todos os lugares, inclusive em Prudente. Tanto a dança pedagógica quanto a artística e a que está ligada à área da saúde. Para uma criança que vive em um mundo cada vez mais tecnológico, uma atividade como a dança pode ser extremamente importante; para as reflexões que a arte proporciona, a dança tem a colaborar com aquele aspecto não linear e não literal que possibilita insights da própria condição humana e suas relações; e por fim, na área da saúde, tem sido constantes as pesquisas que estabelecem a dança como uma atividade física e lúdica que só tem a contribuir. Meu desejo é que Prudente possa valorizar cada vez mais os profissionais de dança da cidade, há muita gente competente trabalhando.
O que pensa dos festivais e mostras de dança?
Acho que são bastante fundamentais para a divulgação da área. Sou mais propenso a defender as mostras em relação aos festivais competitivos, já que a competição nessa área não me parece trazer nenhum tipo de benefício. Acho mais salutar reunir as pessoas para perceber o que temos em comum do que entrar em uma disputa para saber quem é melhor.
Como vê o mercado da dança no Brasil?
Sinto que a quantidade de pessoas que estão trabalhando com dança aumentou muito nos últimos anos. Há uma série de escolas, cursos livres e graduações em dança. Sem falar em produtoras, eventos corporativos, comerciais. É um mercado em expansão e que pode ser uma ótima fonte de renda para quem é bom profissional.
O que seriam Escolas de formação X Grupos de pesquisas?
São ambas instâncias pedagógicas, uma de ensino e outra de produção de conhecimento. A escola de formação trabalha em uma ponta do espectro, é ou pode ser a introdução à educação estética do indivíduo. Depois, um grupo de pesquisa pode avançar para questões mais complexas e produzir tanto conhecimento na forma de espetáculos quanto conhecimento teórico na forma de artigos ou textos. Essas instituições trabalham em sinergia com apoio mútuo e defesa da área como um todo. Mas, a verdade é que existem lugares que podem atender essas duas ações num mesmo âmbito, ou seja, lugares que contemplam tanto a formação quando o desenvolvimento do artista, o nome que se dá não é tão importante quanto o trabalho que realizam, desde que com seriedade.
Há quanto tempo você está fora de Prudente?
Saí para fazer minha primeira graduação, na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo em 1988. De lá fui para a Europa dançar profissionalmente em 93, voltei em 2003, e estou morando em São Paulo desde então. Mas, não passo muito tempo sem vir para a terrinha!
Você é um dos mais respeitados coreógrafos do país. Como se sente sendo referência para tantos jovens sonhadores?
Não sei se me sinto uma referência, sei que trabalho duro e muitas horas por dia! Nosso país carece de muita coisa e com isso a arte e a cultura acabam relegadas a um papel que muitos percebem como supérflua. Eu sou suspeito para falar, mas não consigo achar que nosso país irá realmente melhorar se o binômio arte educação não fizer parte desse processo. A arte é algo fundamental para o desenvolvimento humano e social, um povo educado vota melhor, consegue cuidar melhor da sua saúde, é mais próspero, etc. Outro elemento fundamental que faço questão de difundir é a crença na seriedade para com o trabalho artístico como algo vital para que, politicamente e estruturalmente, possamos conquistar melhores condições de trabalho.
Sobre o espetáculo, qual a importância de se refletir sobre a felicidade?
Eu acredito que arte tem um papel semelhante ao da filosofia: pensar na vida. E isso é salutar quando é realizado de modo interdisciplinar, quer dizer, sob várias perspectivas. O mundo, e nós nele, parecemos enfermos e para reverter esse quadro é necessário tentar identificar o que o faz adoecer. É uma questão multifatorial, complexa em si mesmo.
A tristeza está se tornando um mal disseminado?
A vida não é fácil, em realidade vários filósofos e líderes espirituais indicam que a vida é - de fato -realmente dura, só não percebe isso quem está numa bolha. Contudo, pela primeira vez na história da humanidade a tristeza está se tornando um mal disseminado pelo mundo todo. Até 2030 cerca de 30% da população sofrerá de depressão de forma crônica, de acordo com uma pesquisa da OMS [Organização Mundial da Saúde]. Por isso pensar na felicidade me parece bastante vital. O que constrói ou não a felicidade? Quais são os caminhos que parecem promissores e quais não? Por que insistimos em comportamentos que sabemos ser maléficos para nós mesmos? O que me faz feliz e que está ao meu alcance, diariamente? O processo de questionamento e reflexão sempre joga luz a um assunto, e é nosso desejo colaborar com a problematização através de um espetáculo.
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FICHA TÉCNICA
Direção Artística e Coreografia: Luiz Fernando Bongiovanni
Assistência de Direção: Lumena Macedo
Elenco: Carolina Verzolla, Julia Lima, Fernanda Verardo, Rivaldo Ferreira, Carlos Araújo, Jean Valber, Manoella Brunelli, Jode Manzato
Coreografia: desenvolvida em colaboração com Mercearia de Ideias
Estagiários: Michael Martins e Valentina Cantori
Cenografia: Oswaldo Lioi
Iluminação: Lígia Chaim
Trilha sonora: Sérgio Soffiatti
Figurino: Nayara Saez
Projeção e geração de conteúdo digital: Binho Dias e Veruska
Filmagem: Osmar Zampieri
Fotógrafa: Clarisa Lambert
Técnico de Luz: Ana Matie
Técnico de Som: Luiz Fernando Bongiovanni
Cenotécnico: Jimmy Wong
Produção Executiva: Guto Tataren | Núcleo Corpo Rastreado