​O Espadachim, um cronista a favor dos fãs e contra o fanatismo.

Little Richard, o Arquiteto do Rock

OPINIÃO - Sandro Villar

Data 12/05/2020
Horário 05:08

Logo depois de nascer, o rock, filho do boogie-woogie e neto do blues, lançou o seu grito de guerra, criado por Little Richard, em 1956. Reproduzo para vocês: "Wop-bop-a-loom-a-blop-bam-boom". É com essa "explosão" que Little Richard começa e termina cantando "Tutti Frutti", que ele fez com outros dois compositores, incluindo uma mulher de sobrenome Labostrie (é assim mesmo).

Antes de falar mais desse clássico do rock and roll, convém explicar, para quem ainda não sabe, que diabo é "Tutti Frutti". É uma expressão italiana que quer dizer todas as frutas, de preferência cristalizadas, adicionadas em doces e sorvetes (crônica também é culinária).

Evidente que Little Richard - ou Richard Wayne Penniman nos documentos - fez sucesso com "Tutti Frutti", mas não obteve o êxito que esperava e merecia. A música fez sucesso mesmo com Pat Boone, que gravou "Tutti Frutti" acompanhado pela orquestra de Billy Vaughn. É uma versão mais açucarada e comportada, talvez para agradar a elite branca, contrastando com a gravação "alucinante" do negro Richard. "Rock satânico", diria Dante Mantovani. Elvis Presley e o Queen também gravaram "Tutti Frutti", mas sem o brilho do Ricardinho, com seu piano a mil por hora.

Aliás, Little Richard, que se autodenominava o "arquiteto do rock", tocava piano desde menino e, a meu ver, é um dos quatro exímios pianistas do rock. Os outros três são Jerry Lee Lewis, Fats Domino, autor de "Blueberry Hill", e o "novato" Elton John, nossa gazela canora (Little Richard era bi-gazela e isto é apenas brincadeira).

Além de "Tutti Frutti", Little Richard também compôs "Long Tall Sally" e projetou outros dois clássicos do rock ,"Rip It Up" e "Ready Teddy"(da dupla Marascalco e Blackwell), os três também muito bem gravados por Elvis Presley. A versão dos Beatles de "Long Tall Sally" deixa a desejar, mas isso é apenas observação de cronista metido a crítico de música.

Esses quatro clássicos, além de "Lucille" e "Good Golly Miss Molly",  estão no disco - LP, como se dizia - "Here´s Little Richard", que reúne os maiores sucessos do cantor, pianista e compositor. No fim dos anos 60 do século passado, era um disco raro, fora de catálogo. Queria a todo custo ter esse LP, que, depois de tanta procura, ganhei de presente do cantor Jaks Wu, chinês radicado no Brasil. Ocorre que fui negligente. Deixava o disco na traseira do carro e, com o tempo, o disco ficou "ondulado" pela ação do Sol e não tocava mais. Fiquei mais triste do que um tango argentino.

Little Richard influenciou muitos roqueiros. Um deles é o cantor e compositor John Fogerty, líder da lendária banda Creedence Clearwater Revival. Ao ouvir Fogerty pela primeira vez imaginei estar ouvindo Little Richard. Voz bem parecida com a de Richard. O próprio Fogerty admitiu a influência após o anúncio da morte do autor de "Tutti Frutti".

Nascido em Macon, na Geórgia, Little Richard morreu em Nashville, capital do Tennessee, dois estados situados no Sul dos EUA. Se um sulista tornou-se o arquiteto do rock, outro sulista, Elvis Presley, virou o rei do rock. Little Richard, que foi pastor, reclamou, com razão, do racismo. Se fosse branco, com espaço na Mídia, talvez tivesse vendido o dobro de discos - 30 milhões - e teriam lhe outorgado um "título de nobreza", o de vice-rei ou príncipe do rock.

 

P.S.: Lágrimas por Carlos José, o cantor da voz de veludo e seresteiro de canções como "Guacira","Queria" e "Guarânia da Lua Nova". Ouçam no You Tube porque o rádio não toca essas joias musicais. 

 

 

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