“O que seria uma consulta, se tornou em pesadelo”, relata vítima

PRUDENTE - ROBERTO KAWASAKI

Data 19/01/2019
Horário 04:54

Diante da repercussão que o caso teve, a reportagem conversou com uma das quatro vítimas que prestaram depoimento ontem na DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) de Presidente Prudente. De acordo com a mulher, que preferiu não ser identificada, o suposto assédio sexual teria ocorrido em julho de 2017, durante uma consulta de emergência com o médico cardiologista Augusto César Barretto Filho, 74 anos, quando ela acreditou que estaria com princípio de infarto. “No primeiro exame, eu passei por um eletrocardiograma na presença da secretária dele. Depois disso, o médico pediu para que eu fosse para outra sala, onde iria aferir a minha pressão arterial, desta vez, sem uma terceira pessoa. Fiquei deitada na maca por aproximadamente 20 minutos e ele passou a fazer a escuta cardíaca”, relata a paciente.

Até então, a consulta ocorria sem problemas, até que o profissional se debruçou sobre o corpo da vítima. “O que seria apenas uma consulta se tornou um pesadelo. Enquanto tentava ouvir o coração, o médico encostou os antebraços em meus seios e passou a esfregá-los. Foi então que, em um momento de raiva, desferi cotoveladas para que ele se afastasse e sentei na maca”, conta a vítima. Diante disso, o médico se afastou e foi para trás da mesa, abaixou a cabeça e pediu para que ela voltasse para pegar os exames com a secretária. “Eu disse que não iria retornar. Mesmo trabalhando próximo ao consultório, nunca mais tive coragem de me consultar com ele, foi a primeira e a última vez”.

Demora na condenação

Conforme a Polícia Civil, a suspeita é de que os supostos crimes cometidos pelo médico já ocorrem há pelo menos 25 anos. Como noticiado por este diário, em um dos casos registrados, ocorrido em 2008, a denunciante elaborou o boletim de ocorrência e a DDM trabalhou na conclusão do inquérito policial, que foi encaminhado ao Ministério Público e, posteriormente, ao Tribunal de Justiça. A reportagem solicitou uma nota ao órgão questionando o motivo de não ter havido a condenação do médico na época, e a quantidade de processos antigos que existem contra ele. 

Por meio da Assessoria de Imprensa, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo informou que “em razão do tipo de crime apurado – violência sexual -, o caso corre sob segredo de Justiça e, consequentemente, o Judiciário não pode fornecer informações sobre o processo”. “Se houver alguma alteração neste cenário e for autorizada divulgação sobre o andamento do feito, entraremos em contato”.

Ainda ontem, o CRM (Conselho Regional de Medicina) suspendeu temporariamente, pelo período de 1 ano, o registro do médico para exercer a profissão. “A interdição ocorre independentemente do processo que ele venha a responder. Ou seja, ele está interditado de exercer o ofício. A partir de agora, a sindicância continuará apurando os fatos para posteriores punições que, dentro do conselho, serão embasadas em cláusulas ético-profissionais, que poderão resultar na cassação [cancelamento do registro profissional]”, afirma Henrique Liberato Salvador, conselheiro do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo).

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