“...ouvi: achei que fosse um bombeiro, mas é uma mulher”, Talita Gomes Anadão, bombeiro de prontidão

REGIÃO - ROBERTO KAWASAKI

Data 02/07/2019
Horário 21:58
José Reis - Soldado Talita Gomes Anadão, 31 anos, é bombeiro de prontidão no 14º GB (Grupamento de Bombeiros)
José Reis - Soldado Talita Gomes Anadão, 31 anos, é bombeiro de prontidão no 14º GB (Grupamento de Bombeiros)

Soldado Talita Gomes Anadão, 31 anos. Bombeiro de prontidão no 14º GB (Grupamento de Bombeiros), em Presidente Prudente. Natural de Osvaldo Cruz, mora em Presidente Prudente há 15 anos e viu na profissão do irmão uma oportunidade para fazer aquilo o que sempre quis: atuar na Polícia Militar do Estado de São Paulo. A trajetória profissional de Talita começou há cinco anos, quando ingressou na corporação militar, trabalho que permitiu a ela atuar durante três anos na infantaria combatendo a criminalidade nas ruas. Durante o período, a parceria direta com o Corpo de Bombeiros fez com que ela decidisse dar um passo a mais na profissão e, há dois anos, se comprometeu a salvar as vidas daqueles que estão em situação de risco. No Dia do Bombeiro Brasileiro, ela é nossa entrevistada.

O Imparcial: O que te motivou a entrar na corporação militar?

Talita: A princípio, escolhi a profissão de Policial Militar porque tenho como exemplo e referência o meu irmão, que atua como cabo no canil da Polícia Militar há mais de 20 anos. Para mim, era algo que achava muito legal, e quis seguir. Enquanto policial militar, trabalhando na rua, passei a ter contato direto com o Corpo de Bombeiros, com uma frequência maior do que a que tem a população. As equipes estão sempre juntas, uma prestando auxílio à outra. Conforme o convívio, eu fui me interessando pela função até que decidi mudar. Mas, tive que fazer um curso antes de ingressar no grupamento, assim como muitas colegas na época fizeram para conseguir um número de vagas mínimo para atuar na região.

O fato de uma mulher usar farda, ainda é julgado por terceiros?

Digo que a sensação de estar no Corpo de Bombeiros com uma farda causa impressões diferentes na sociedade de quando eu estava na PM. Isso porque as pessoas têm a visão de que o trabalho de bombeiro é bastante masculino, é nesse sentido a que me refiro. As pessoas olham para nós [mulheres] no atendimento de ocorrência e se admiram por verem uma mulher. Teve um fato ocorrido em São Paulo em que retirei uma senhora do incêndio e, quando saí, passei mal e tiraram o meu capacete. No momento, quando viram o meu cabelo, ouvi: “achei que fosse um bombeiro, mas é uma mulher”. Me senti como se não fosse possível ser mulher e bombeiro [risos].

Como é a sua rotina no Corpo de Bombeiros?

A rotina do bombeiro de prontidão é diária. Entramos às 7h30 e assumimos o serviço. Dentro da nossa carga horária de trabalho, que é de 24h, temos horário para tudo. Tomar o café, fazer a conferência das viaturas, atividades físicas, tem o momento para almoçar. E dentro desta rotina, tanto homens quanto mulheres na função de prontidão temos as mesmas funções, obrigações e responsabilidades. As nossas funções mudam a cada 15 dias por conta da nossa escala quinzenal. Então, quando não estou na função de auxiliar de resgate, presto auxílio na condução do veículo. A atividade será feita independentemente se for homem ou mulher.

Quais as missões mais difíceis? Já passou por situações de risco?

Riscos sempre existem. Há ocorrências que são tranquilas e outras bastante complexas. Incêndio em local confinado, como em residência ou indústria. Como são locais fechados, é um risco muito grande. Durante um atendimento no final do ano, um caibro em chamas caiu na minha cabeça e me deu uma leve desorientada. Foi um susto, mas ficou tudo bem. Outra situação delicada foi de soterramento, porque tínhamos que descer 5 metros de profundidade e, além da superfície, tinha terra acumulada que ia caindo enquanto procurávamos a vítima. É importante levar em conta que o bombeiro nunca está sozinho, porque trabalhamos sempre em equipe. Eu sou responsável por você e você é responsável por mim.

Qual o fato que mais te marcou em dois anos na prontidão?

O socorro que prestamos a um bebê engasgado. Essa criança nasceu prematura, aos sete meses e, no dia da ocorrência, estava com 30 dias de nascimento. Em certo momento, ela se engasgou e a cuidadora tentou fazer a manobra conforme as orientações prestadas via Cobom [Central de Operações do Bombeiro Militar]. A mulher conseguiu fazer a desobstrução, porém, o bebê continuou parcialmente engasgado. De imediato, fomos ao local prestar socorro. No trajeto, ela entrou em parada respiratória e a entregamos na santa casa, onde a equipe médica de plantão fez excelente atendimento. Por volta de 6h do dia seguinte, voltei ao hospital para ver com ela estava, e fui informada de que estava viva e respirava bem. É gratificante ver que o primeiro atendimento ou a manobra que a gente dá, vai mudar a história daquela família.

O que a família pensa da sua profissão? Volta para a casa se sentindo uma heroína?

Tenho um filho de 8 anos, o Artur. Ele me vê como uma heroína, e até disse que quer ser um bombeiro quando crescer. Quando ele visita o meu trabalho, olha as viaturas e fica apaixonado pela nossa função. A família também tem o olhar de admiração, que às vezes nós que estamos aqui dentro acabamos não dando tanto valor. Eles têm orgulho não apenas por mim, mas pela nossa instituição que é Corpo de Bombeiros. Eu amo o que eu faço!


 

 

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