"Temos cada vez mais menores envolvidos no tráfico de drogas"

Ives Minosso de Almeida Ramos - Capitão PM do 8º Baep

PRUDENTE - ROBERTO KAWASAKI

Data 09/11/2019
Horário 09:18
Jean Ramalho - Capitão Minosso: "o tráfico, muitas vezes, é um crime que movimenta outros"
Jean Ramalho - Capitão Minosso: "o tráfico, muitas vezes, é um crime que movimenta outros"

O tráfico e consumo de drogas não escolhem idade, sexo ou classe social. Na região de Presidente Prudente, tem sido comum o registro de ocorrências envolvendo menores de idade nesse meio, situação preocupante! Na edição de hoje, o capitão do 8º Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia), Ives Minosso de Almeida Ramos, fala sobre o atual cenário do comércio de entorpecentes local. Há 22 anos na Polícia Militar do Estado de São Paulo, construiu a carreira praticamente na área do CPI-8 (Comando de Policiamento do Interior), período em que também fez parte do efetivo do programa de Força Tática e participou de diversas apreensões envolvendo, principalmente, o tráfico de drogas.

O Imparcial: O que leva o adolescente a entrar no tráfico de drogas? Eles têm noção do crime estão cometendo?

Capitão Minosso: Muitas vezes, a aproximação ocorre pelo próprio uso de entorpecentes, o uso de droga aproxima o adolescente do traficante. Quando há esse contato, ele [jovem] passa a receber porção de droga em troca de fazer o tráfico, mas é aquele comércio de varejo. Essas porções que recebem são poucas, então, tem que vender para ganhar a recompensa que basicamente serve para alimentar o próprio vício. Ele sabe o que está fazendo, tem noção do perigo e, às vezes, até se expõe em rede social achando que é uma forma vantajosa no meio onde vive.

Por que os menores são escolhidos para atuação no comércio de drogas?

Muitas vezes, eles são utilizados pelo tráfico de drogas, mas não chegam a ser o traficante fim. Essa é uma tentativa [adotada pelos traficantes] de conseguir uma impunidade do comércio de entorpecentes, utilizando o adolescente para fazer o serviço. Temos cada vez mais menores de idade entrando nesse meio. Na região, infelizmente, muitos dos adolescentes envolvidos no tráfico e que são apreendidos, voltam a delinquir, não dá para traçar um perfil exclusivo.

Recentemente, a Polícia Civil deflagrou duas operações para combater o tráfico de drogas em escolas de Presidente Prudente. Como a Polícia Militar atua para combater as vendas nas imediações?

A polícia atua nessa situação de maneira preventiva, através do policiamento ostensivo, ronda escolar e outros programas de policiamento. Já a Polícia Civil trabalha mais com a parte de investigação. Sabidamente, a escola é um local que os traficantes utilizam para o tráfico de drogas.

O tráfico pode ser associado às ocorrências de roubo e furto?

Às vezes, o crime é praticado para a pessoa obter recurso para o tráfico, por exemplo, roubo e furto de veículo. Depois disso, o automóvel é levado para o Paraguai e trocado por entorpecente. Na região não temos desmanche de carro e, geralmente, muitos dos veículos furtados são para circulação, e o índice de recuperação é superior a 80%. Recentemente, tivemos um caso de latrocínio em que a vítima foi um motorista de aplicativo. O veículo dele foi trocado por droga no Paraguai. Então, o tráfico, muitas vezes, é um crime que movimenta outros.

Como traçar o perfil de um traficante?

Não dá para traçar um perfil único. Existe o pequeno traficante [que vende em varejo], o intermediário [que fornece peças maiores] e aqueles que passam pela região para abastecer os grandes centros. Temos traficantes que são presos desde quando eu vim para o interior, isso há mais de 17 anos. A pessoa continua fazendo o tráfico de drogas, o que muda é o modus operandi, ou seja, o modo de agir. Se ele é preso de certa forma, deixa de armazenar o entorpecente de como era feito antes, muda o comércio e os meios que ele usa. No entanto, continua comercializando.

Falando na maneira de agir, como a polícia descobre os novos esconderijos? Há refinarias na região?

Descobrimos esses locais através de inteligência e denúncias. Existem muitas áreas de mata, e os traficantes utilizam desses locais para armazenar droga ou fazer o refino, principalmente da cocaína e do fracionamento da maconha. Muitos tabletes vêm do Paraguai, e é muito difícil deixar numa casa. Nas matas, ficam enterrados em barris, e o traficante fraciona ou vende no atacado por peça. Essas grandes quantidades vão para as refinarias, por meio de um consórcio entre os traficantes. Eles juntam uma quantia em dinheiro para comprar um volume maior de droga e conseguir desconto. No Paraguai, o quilo da maconha está em torno de R$ 500 a R$ 800.

Como a PM tem se preparado para inibir o tráfico e prender traficantes?

Temos apostado muito na especialização dos cães de faro. Com o Baep, aumentamos em três vezes o nosso efetivo do Canil, que especializa os cães até mesmo para encontrar explosivos e armas de fogo. Essa é uma ferramenta que imputo ser importante pra gente conseguir aumento da produtividade, porque o tráfico vai se modificando. Hoje, contamos com 18 cães em Presidente Prudente, outros 18 em Assis e aguardamos a expansão para a companhia de Presidente Venceslau.

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