Aplicativos podem gerar objetificação do outro

Devido à falta de aspectos emocionais e afetivos, relações geradas no ambiente virtual podem se tornar intensas e superficiais

PRUDENTE - IZABELLY FERNANDES

Data 23/09/2018
Horário 04:46
Marcio Oliveira - Luana fala que as redes sociais abrem as portas para casualidade
Marcio Oliveira - Luana fala que as redes sociais abrem as portas para casualidade

Os meios de comunicação passaram a ter uma presença dominante na vida das pessoas, fazendo com que as relações sociais sejam efetivamente mediadas por estes veículos. Nos casos dos aplicativos de relacionamentos, o excesso de tecnologia acaba resultando em relações mais “intensas, rápidas e casuais”. De acordo com o psicólogo, Vinicius Branquinho, isso ocorre devido à falta do “olho no olho”, da entonação da voz e a falta de incidência de aspectos emocionais e afetivos. Para o especialista, outro problema causado pelos relacionamentos no meio digital é a objetificação do ser humano, devido a uma sociedade líquida.

Segundo o sociólogo, Luiz Antonio Sobreiro Cabreira, antes do advento da tecnologia e das redes sociais, as relações eram mediadas pelo contato pessoal e com o tempo, por isso eram mais sólidas. “Com a inserção das redes sociais, surgem novas formas de relação, estabelecendo novos critérios como: maior autonomia, liberdade, assim como uma comunicação mais fria e distante”. Ele diz que as relações passam a ser mais líquidas, pois respondem a interesses individuais. “Hoje, até mesmo o conceito de amizade se tornou líquido. Antes ela era contada pelos anos e a profundidade de envolvimento com a vida do outro”, explica.

O especialista ainda afirma que as relações humanas dependem de dois fatores: das ferramentas de mediação da comunicação e de que forma como são utilizadas. “Os critérios escolhidos da hierarquia decisória da vida das pessoas mudou muito, devido às transformações da sociedade”. Cabreira fala que antigamente, casamento e trabalho estavam ligados, e as pessoas tinham vontade de adquiri-los em conjunto. “Hoje em dia, o sucesso profissional acaba prevalecendo perante os relacionamentos sérios, fazendo com que os indivíduos demorem mais tempo para se comprometerem, seja formalmente ou informalmente”, esclarece.

Para o psicólogo, as relações mediadas pelo digital não são capazes de transmitir o afeto pelos aplicativos. “Geralmente elas só são estabelecidas para suprir uma carência interna.” Vinícius fala que isso acaba gerando sofrimento, tristeza e distanciamento da realidade, além de causar uma diminuição da capacidade de se relacionar com as pessoas. “Na internet, você projeta uma coisa que muitas vezes não é por isso os relacionamentos na web acabam sendo entre protótipos de pessoas e não com o ser humano em si”, afirma.

Para a publicitária, Luana Fernanda do Nascimento da Silva, 21 anos, que utiliza o aplicativo relacionamento Tinder desde quando foi lançado no Brasil, os relacionamentos hoje em dia estão muito superficiais, com pessoas cada vez mais frias e que não se preocupam com os pares. “No começo do aplicativo, as pessoas só queriam conhecer outras pessoas, em busca de uma socialização”. Luana fala que as redes sociais abriram as portas para facilitar essa casualidade. “Esses aplicativos nos tratam como um cardápio. Eu até procuro fazer um perfil diferente, com conteúdo, colocando fotos de ‘memes’ antes das minhas, para ver quem se dá o trabalho de parar para ler sobre mim, e não ver minha foto e pensar ‘pego ou não pego’”, declara.

A publicitária afirma que a internet está substituindo muitos valores, que antigamente eram importantes. “Amigos cobram mais um parabéns nas redes sociais do que um abraço sincero, pessoas deletam fotos por não ter tantas curtidas como imaginam. São muitos valores retorcidos”, expõe. Luana declara que usa o aplicativo mais como um auxilio para conhecer pessoas e não para encontros casuais. “Não posso dizer que procuro por um namoro, pois ele é consequência de conhecer alguém. Mas acredito que tenha alguém que pense assim como eu e que esteja ali a fim de conhecer pessoas de uma maneira mais séria”, declara.

 

 

 

 

 

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