Atos de solidariedade devem ocorrer de forma contínua  

EDITORIAL -

Data 07/05/2018
Horário 08:11

Era 7h de um sábado tranquilo, em um tempo ameno e ensolarado, ótimo para se aproveitar debaixo dos lençóis. No entanto, mais de 300 pessoas venceram o sono e levantaram cedinho para iniciar nas primeiras horas da manhã os trabalhos de recolhimento de roupas e cobertores para aqueles que mais necessitam. O primeiro mutirão da Campanha do Agasalho deste ano, encabeçada pelo Fundo Social de Solidariedade de Presidente Prudente, estava a todo vapor nas ruas a partir das 8h de ontem, percorrendo, 20 bairros da cidade - incluindo a região do Conjunto Ana Jacinta e adjacências.

Foram 250 voluntários de entidades assistencialistas e 100 atiradores do TG (Tiro de Guerra) se uniram em torno de um nobre propósito, atitude louvável, mas que não deveria ser sazonal. O povo brasileiro, de modo geral, é arrebatado frequentemente por comoções das mais diversas, engajando em auxílio de vítimas das tragédias mais variadas (sociais, econômicas ou climáticas). Muitos belos exemplos de solidariedade têm sido registrados nessa semana, diante do triste desabamento de um prédio ocupado por sem-teto no Largo do Paissandu, na capital paulista.

Vigílias tem sido realizadas por fiéis, doações chegam à todo tempo e jamais será esquecido o simbólico exemplo do “tatuagem”, homem que dedicou seus últimos momentos de vida ajudando no resgate das pessoas que ainda estavam no prédio após ser tomado por um incêndio, mas morreu antes de conseguir ele mesmo ser socorrido pelo Corpo dos Bombeiros. Como imaginado, o sacrifício emocionou a muitos, que ansiosamente acompanhavam a busca pelo corpo perdido em meio aos escombros.

Todavia, infelizmente, a memória do brasileiro também é bem curta. Assim que surge uma nova comoção, a anterior é abandonada, e ninguém mais se lembra dos que ainda sofrem os impactos da tragédia. Prova viva é Mariana, em Minas Gerais. O município sofreu o maior desastre ecológico (ou se preferir, crime ambiental) do país com o rompimento da barragem de uma mineradora. Mas esse assunto simplesmente foi abolido das conversas cotidianas.

Os atos de solidariedade devem ser constantes e mais do que isso, contínuas. É preciso se preocupar com o outro verdadeiramente, e não usar de momentos altruístas para satisfazer uma consciência pesada ou, pior do que isso, com o objetivo de autopromoção. Sem isso, continuaremos um povo que encarna o propósito de ajudar o próximo apenas quando é tomado pelo espírito natalino, com uma bondade tão comercial e fugaz como uma data comemorativa.

Publicidade

Veja também