Desabastecimento na Ceagesp gera racionamento

Entrepostos registram redução de aproximadamente 50% na chegada de alimentos; supermercados limitam compra de produtos

PRUDENTE - THIAGO MORELLO

Data 25/05/2018
Horário 08:59
Marcio Oliveira - Mercados passam a limitar quantidade de produtos por consumidor
Marcio Oliveira - Mercados passam a limitar quantidade de produtos por consumidor

A greve dos caminhoneiros chegou ontem ao seu quarto dia com protestos e paralisações pelas estradas brasileiras, e, junto com ela, os reflexos e impactos decorrentes à região também continuaram. A falta de alimento e combustível, sem dúvida, tem sido os principais pontos presenciados. Para se ter noção, o abastecimento do Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) de Presidente Prudente caiu pela metade. O local estava acostumado a receber uma média de aproximadamente 200 t (toneladas) por dia, e desde terça-feira foram apenas 100 t. E com a falta de produtos, para quem precisa deles, não tem o que comercializar. Em meio ao cenário de esgotamento, supermercados do município já trabalham com o racionamento de itens, ou pelo menos pensam nessa atitude, caso as manifestações não cessem.

A quantidade estimada na queda do abastecimento do Ceagesp pode ser comprovada pelo número de notas que são entregues semanalmente, como dito pelo técnico administrativo do local, Thiago Pereira da Silva. “Houve uma diminuição da chegada de mantimentos, percebida dia após dia. De terça para quarta-feira, a situação piorou mais”, explica. Ele destaca que hoje será possível ter um balanço mais preciso dos déficits.

Isso porque existem mercadorias que ainda há a possibilidade de trabalhar com o estoque. Thiago lembra à reportagem que tem produtos no qual o tempo para degradação é maior, sendo assim, tem o que vender e repassar. “Porém, com os dias, até mesmo os alimentos mais duradouros uma hora vão estragar”, completa. E por conta do esgotamento, a oneração dos valores acaba sendo uma saída. Tirando a batata, principal produto até então afetado, ele diz que os demais sofreram um aumento médio de 35% para o repasse aos consumidores.

Isso quando é possível repassar. No Supermercado Avenida, por exemplo, para quem foi lá na tarde de ontem com a intenção de comprar batata, voltou para casa frustrado. “Os produtos mais afetados são os que possuem abastecimento diário, como FLVs [Frutas, Legumes e Verduras]. Amanhã [hoje], tem a previsão de chegar um novo carregamento, mas se isso vai acontecer ou não ainda é incerto”, argumenta o gerente do local, Eneas da Silva Rocha. O setor de hortifrútis teve um aumento médio de 9%, em vista do problema do esgotamento e, consequentemente, os valores pagos aos fornecedores, que também foram ajustados.

Se a greve continuar, o gerente pondera que outros setores sejam prejudicados, mas principalmente a comercialização de perecíveis, como carnes. Aliás, o racionamento por lá já é realidade, quando o assunto é a venda do leite. Para quem for ao mercado comprar o mantimento, só poderá sair de lá com, no máximo, 24 unidades, além de ter que desembolsar no mínimo 10% a mais do que já estava acostumado a pagar.

No Supermercado Estrelas, localizado na Cohab, o racionamento ainda não é uma realidade, mas é uma ideia a ser seguida, caso as paralisações continuem. No entanto, o superávit nos preços de alguns alimentos não foi possível evitar. O quilo da batata, produto pivô na problemática do hortifrútis, foi de R$ 1,89 para R$ 4,89. “Estamos trabalhando com o estoque, porque há produtos que não estão chegando. Está bem devassado”, considera o gerente do estabelecimento, Júnior Barbosa dos Santos.

Já no Super Muffato, por enquanto não há “falta de mercadoria nas gôndolas”, mas já adverte que pode ter “ruptura em alguns produtos perecíveis a partir deste fim de semana [como algumas frutas e legumes], caso a greve continue” e não receba as mercadorias compradas, de acordo com a assessoria de imprensa do estabelecimento.

De modo genérico, a Apas (Associação Paulista de Supermercados) se posicionou sobre a situação dos mercados, e disse que as paralisações dos caminhoneiros autônomos já causam desabastecimento nos supermercados, em especial itens de FLV, que são perecíveis e de abastecimento diário. “Alguns supermercados já realizam ações de contramedida para não faltar produtos, limitando a uma quantidade máxima por consumidor. Grande parte das lojas, no entanto, trabalha com estoque e aguardará uma decisão do governo nesta tarde para tomar tais providências”, finaliza.

 

Impacto no Fórum

Até o Judiciário foi afetado pela greve, de modo que o Fórum de Presidente Prudente reduziu seu expediente na tarde de ontem. Uma nota do TJSP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo) informava que “em razão dos transtornos causados pela paralisação dos caminhoneiros, para que não haja prejuízo à população, o Tribunal de Justiça suspendeu os prazos processuais e antecipou o encerramento do expediente para as 17h em todas as comarcas do Estado”. O comunicado com essa determinação será disponibilizado no Diário de Justiça Eletrônico de hoje.

 

SAIBA MAIS

O comércio prudentino já começou a sentir os impactos também. À reportagem, o presidente do Sincomércio (Sindicato do Comércio Varejista Presidente Prudente), Vitalino Crellis, garantiu uma baixa na movimentação da área central ontem. “Quem mais tem sentido isso são as lojas de departamento, que precisam de carregamentos que vêm de outras cidades”. Ele observa que o comércio já deu uma caída, falta de entrega e isso começa a preocupar os comerciantes. Em Dracena e Adamantina, por exemplo, o comércio fechou uma hora mais cedo do que o acostumado, às 17h, como prestação de apoio à greve dos caminhoneiros.

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