Diego Moraes fala pela música

VARIEDADES - OSLAINE SILVA

Data 28/06/2018
Horário 05:48
Divulgação / Cisco Vasques:  Diego diz que tem espaço para viver de música para todos os gêneros sim, só na mídia que não
Divulgação / Cisco Vasques:  Diego diz que tem espaço para viver de música para todos os gêneros sim, só na mídia que não

Está fresquinho, disponível em todas as plataformas digitais: “#ÉqueEuAndodeÔnibus”. Este é o título do primeiro álbum de músicas autorais, o segundo da carreira, do cantor e compositor Diego Moraes, natural do interior paulista, de Santa Bárbara D’Oeste. Revelado no Ídolos (Globo) 2009, no qual foi finalista, nesta entrevista Diego fala de sua música, da família, de experiências “reais” de sua vida. ...“Olho muito para o céu/É que ando muito de ônibus/Bebo no copo de requeijão/Combino terno e chinelo (...)” assim canta Diego em “Muderno” tendo no trombone Milton Bonny, no sax, Tercio Guimarães, na bateria, Jean Michell, na guitarra e no teclado, Edu Capello brincam com jazz, blues e soul em três minutos encantadores.  O primeiro single que ganhou clipe já superou 400 mil views no YouTube.. Apesar de vir de formação em conservatório, o cantor costuma dizer que “sua música fala com o povo”.

Por que a hashtag e o título do disco “#ÉqueEuAndodeÔnibus? Quantas faixas possui?

O título do disco é uma frase do single “Muderno”. Um dia um amigo, num boteco, me perguntou:

- E aí, Diego... o que você tem feito na vida ?

- Olhando muito para o céu

- Por que?

- É que eu ando de ônibus.

A hashtag é porque na época que fotografava muito quando andava de ônibus e quis concentrar as fotos no Instagram, achei legal, e coloquei no nome do álbum.

Existem tantas histórias dentro de um ônibus, não é Diego? Esse álbum seria, de certa forma, uma homenagem para quem precisa desse meio de transporte em suas rotinas diárias?

Sim, esse álbum veste muita gente por conta de ser um reflexo irônico de um cotidiano comum de uma pessoa tentando viver feliz diante de todos os problemas que estamos atravessando no país. É um álbum dançante, mas que fala de dor. Assim como o samba, eu queria que as pessoas dançassem com essas letras.

O primeiro single, “Muderno”, ganhou um clipe, gravado em São Paulo, que já superou os 400 mil views no Youtube. O que traz a letra de “Muderno”?

A letra de Muderno é autobiográfica. Vi-me trabalhando num shopping, inserido em um sistema capitalista ganhando o suficiente para pagar aluguel e comer, em uma carga horária bizarra, e saindo aos fins de semana para beber e me drogar com amigos em um camarote de balada qualquer pra tentar me divertir. A letra de ‘Muderno’ evidencia isso de maneira clara e didática e quando as pessoas cantam ‘Muderno’ elas estão se olhando no espelho. Mas, o grande lance é que a gente olha tanto para o espelho que fica automático até o dia que aparece uma espinha na testa, a gente olhar melhor, e resolve mudar o corte de cabelo. ‘Muderno’ mudou meu corte de cabelo ideológico.

Por que “#ÉqueEuAndodeÔnibus” é um trabalho para ser lido, ouvido, refletido, apreciado em suas diversas possibilidades?

Porque acima de tudo é um disco que desperta a mim e às pessoas ao renascer dando risada das cagadas da vida porque tudo vai ficar bem.

Você foi revelado no programa Ídolos 2009, no qual foi finalista. O que mudou em sua vida, tanto pessoal quanto profissional, depois do reality?

Eu voltei do programa pra casa devendo R$ 1,2 mil de aluguel, então tive que trabalhar dobrado. Terminei um namoro porque fiquei confinado sem contato com o mundo e sem voltar pra casa no processo do programa por quase 5 meses e quando retornei o boy tinha me traído.. [na época em que eu ainda acreditava em monogamia]. Mas, eu amei participar do programa, ao mesmo tempo doeu porque foi como um ‘Show de Truman’ quando entendi o que realmente importa às gravadoras e às mídias televisivas. Foi muito emocionante receber o carinho das pessoas que se sentiam representadas pelo caminho e papo que escolhi seguir no programa... Recebo esse carinho até hoje em qualquer lugar que eu vá do Brasil mesmo após 10 anos.

Quando foi que você decidiu que a música era o que queria para a vida, Diego?

Quando eu era criança, uns 5 ou 6 anos e cantava na Pastoral da Criança, abrimos as vozes em ‘Dona Nobis Pacem’ com mais de 1000 crianças no estádio do XV de Piracicaba. Quando as vozes se abriram foi uma emoção tão grande e isso me entendeu o que seria para o resto da vida.

Hoje em dia, graças a Deus, muitos são os projetos sociais em que as crianças menos favorecidas econômica e socialmente, podem aprender muitas artes, teatro, circo, dança, música e também o esporte. O que é fato que tira muitas das ruas. De caminhos errados. O que você diria sobre isso, em especial um conselho aos pais que busquem e ofereçam esta chance a mais aos filhos?

Sou de uma periferia rural e acredito que se não fosse uma voluntária do projeto social ‘Pastoral da Criança’ que nos ensaiava na garagem da vizinha, talvez, o meu dom não tivesse sido descoberto nem por mim. E se não fossem meus pais eu não teria seguido o caminho da música. A música no Brasil não é vista como um trabalho, mas hoje eu sou um adulto que paga as contas e mora em um bairro na região da Avenida Paulista, em São Paulo. Eu poderia estar preso por roubo ou tráfico de drogas como alguns amigos meus de infância estão, mas estou aqui e venci graças à música. 

É possível viver de música no Brasi? Tem espaço para todos os gêneros?

Super possível! É que o que para as pessoas o ‘deu certo’ é o que está na televisão. Eu, meus lindos e vários amigos vivemos e sobrevivemos de música. Tem espaço para viver de música para todos os gêneros sim, só na mídia que não.

Sua música abre um leque que vai da MPB de Elis Regina e Gal Costa, que sua mãe cantava enquanto lavava roupas no tanque, ao sertanejo de raiz, preferência do seu pai... Pode falar um pouco mais dessas duas personalidades em sua vida?

Em casa todo mundo canta e sempre cantou. Lembro-me de ainda criança abrir quatro vozes com minhas irmãs e meus pais na sala por horas... como eu estudava teoria musical, eu passava as vozes e a gente fazia o coro. Meu pai já abria vozes instintivamente com os amigos. Quando meus pais descobriram que eu cantava e que virei um fenômeno na igreja do bairro, decidiram me incentivar. Meu pai queria que eu gostasse de futebol, mas eu só queria saber de cantar e tocar. No início, ele acordava no domingo de manhã, me colocava a bordo de uma Brasília verde pra eu ir treinar futebol no clube da empresa que ele trabalhava como metalúrgico. Passou um tempo, um pouco desanimado com meu desempenho no esporte, fazia o mesmo ritual só que pra me levar pra ensaiar na cidade com um coral de 40 adultos onde eu era soprano [risos]. Meus pais são guerreiros que sustentaram a mim e minhas duas irmãs morando em uma casa de três cômodos, dormíamos todos os cinco no mesmo quarto até meu pai e minha mãe com muito trabalho conseguirem construir uma casa muito melhor. Qual minha mãe mora até hoje e que eu amo visitar. Tem uma vista pra uma montanha do Horto Florestal do bairro.

Para finalizarmos, do início ao fim, o que o ouvinte ganha em “#ÉqueEuAndodeÔnibus”?

Esperança, eu diria.


 

 

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