Enem, ontem e hoje

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 30/10/2018
Horário 04:05

O Raio x do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) tem deixado os brasileiros pasmos - 329 mil estudantes tiveram nota zero na redação do Enem em 2017. Veja, leitor, após os alunos frequentarem a escola durante 12 anos ocorreram mais de 300 mil zeros! Há de se questionar o que está ocorrendo ou deixando de ocorrer nas escolas brasileiras. Outro resultado estranho refere-se à produtividade relativa ao gênero: 72% dos mil primeiros colocados são homens. Essa disparidade é justificada também pelo desempenho entre raças. Em matemática as garotas negras ou pardas, que constituem a maioria dos inscritos no Enem, representam só 6% das notas mais altas. A disparidade ocorre basicamente pelas notas de matemática, física e química, em que os meninos se saem melhor que as meninas brancas, as negras e pardas. Esses dados foram confirmados pelo Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), o maior exame internacional do mundo realizado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Historicamente as mulheres sempre foram consideradas inferiores. Serão nos dias atuais, de novo, vítimas do “vírus truculento” do preconceito de inferioridade de raciocínio em ciências exatas? A cientista Ida Vanessa Doederlein Schwartz, vencedora do prêmio que Mildred, promovida pela A.B.C. de Bioquímica e Biologia Molecular, afirma que a razão dessas disparidades são: preconceito, descaso e nível econômico. Esclarece que na classificação de produtividade do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico) os rapazes são sempre priorizados. Declara que até nos congressos nos Estados Unidos os cientistas “não enxergam” as mulheres, soma-se ainda o fato de que os salários das cientistas são 30% inferior aos dos homens. O caso mais gritante nos últimos tempos foi a declaração do reitor Lawrence Summers, da Universidade Harvard. Ele justificou que a incapacidade de as mulheres serem boas pesquisadoras está no DNA. A declaração do reitor indignou a sociedade científica, logo mais ele foi demitido e substituído por uma mulher. 

A história aponta ter ocorrido “invisibilidade” e não ausência das mulheres na ciência no decorrer dos séculos. Biografias apontam químicas, biólogas, físicas brilhantes, coadjuvantes invisíveis, “agindo nas sombras” – emprestaram suas criações e saber aos homens, porque jamais poderiam aparecer como autênticas cientistas. Em síntese, não há dados que provem que as mulheres, em particular as negras, sejam menos capazes em ciências exatas.

O Enem 2018 já chegou e os jovens deverão vencer os desafios, Como professora de redação, peço a todos os candidatos que mantenham a calma e realizem primeiramente a redação antes de adentrarem às demais questões. Não se esqueçam de utilizar as técnicas para a realização de um texto coerente e coeso no espaço de tempo ponderado para não prejudicar o desempenho do restante da avaliação. Seja qual for o tema, é indispensável “puxá-lo” para o contexto da atual realidade brasileira a fim de fazer uma análise crítica do mesmo. Somente assim é possível um posicionamento seguro da tese a ser defendida que possa permitir uma redação nota mil ou próxima a esse número. Vocês, jovens de todo o Brasil, podem ser vítimas de escolas que não os preparam, mas são competentes e, com esforço, certamente vencerão. Bom resultado no Enem é o que desejamos a todos. Vamos vencer! E vamos mudar “nossa casa Brasil”.

Publicidade

Veja também