Escola e tecnologia: mudança do todo

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 11/06/2019
Horário 04:15

As telas estão nas mãos de crianças e jovens de todo o planeta, mas não é preciso brigar com a tecnologia que assusta pais e professores. Com bons vídeos ao alcance de todos o professor de Biologia, por exemplo, pode iniciar a aula apresentando um coração pulsando, o movimento das células, as sinapses dos neurônios cerebrais; há recursos que encantam para todas as áreas e tornam a escola mais atraente.

Mas a tecnologia pode também escravizar; importa, como utilizá-la. As telinhas não substituem os livros, oferecem, no entanto, possibilidade de leitura online; e disso a moçada gosta! O neurologista e matemático Stanislas Dehaene, um dos maiores expoentes no estudo do cérebro, dedica-se a decifrar as mudanças cerebrais causadas pelo ato de ler. Segundo ele a leitura moldou o cérebro humano e preparou-o para habilidades impossíveis de serem aprendidas por iletrados.

Ele afirma que nosso cérebro aprendeu a ler a partir de uma reciclagem de neurônios, assim a leitura despertou a capacidade de perceber diferenças sutis e aumentou a capacidade de compreensão e aprendizagens.

No processo de alfabetização Stanislas Dehaene afirma que não se pode dispensar “o fônico-silábico” porque este conduz formação de maior número de sinapses cerebrais que conduz ao domínio mais rápido eficiente do processo alfabetizatório. Entretanto, creio que o melhor método de alfabetização é o que oferece melhor resultado, razão pela qual a experiência do professor deva ser respeitada. Chega de “donos da verdade” com imposições que destroem a liberdade e criatividade do professor. No Brasil o construtivismo provou por mais de meio século que é ineficaz, mas continua ainda sendo exigido. Dehaene afirma que quando a criança é alfabetizada pelo método global (construtivismo) o lado direito do cérebro é ativado, mas para que a leitura seja concluída o lado esquerdo deve ser ativado com o jogo fônico-silábico. Este é indispensável por constituir “os tijolos” para a formação de todas as palavras, frases e textos.

A escola é responsável por uma alfabetização sólida até os 6 ou 7 anos de idade, o mais tardar. Países com mais justiça social são aqueles em que todos são alfabetizados e o índice de leitura por habitante é mais alto como Suíça, Suécia, Dinamarca, Noruega. Nesses países os professores são livres na para ensinar e até na escolha do espaço: pode dar aula no pátio da escola, jardim ou praça. Contudo, se “não provar o resultado” ele é dispensado. Veja leitor, simples assim. Existe maior motivação que a certeza de que será dispensado se, de fato, não trabalha? Por que vendedores alcançam altíssimas metas de venda no comércio, senão pelo medo de perder emprego? É lamentável que seja assim, mas assim é. 

Desenvolver o gosto pelos estudos, pela leitura, o prazer pela pesquisa, a conquista de método de estudo é dever da escola, dever de todos os professores e também de colaboração e exigência da sociedade. Cabe a todos o direito de ler e o direito à cultura, e é dever de as pessoas utilizarem o conhecimento adquirido para fazer do município, Estado e do Brasil um lugar melhor para se viver. Afinal, como ensinou Pitágoras: “Educai a criança e não terás que punir o homem”.

Questiona-se: Deve haver mobilização da sociedade pela causa da educação ou para construção de mais e mais penitenciárias?

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