Exposição revela subjetividade de pacientes do Caps de Prudente

Disponível ao público até sexta-feira, acervo traz obras produzidas durante oficinas de terapia ocupacional dentro da unidade localizada na Cohab

VARIEDADES - ANDRÉ ESTEVES

Data 19/02/2019
Horário 10:00
José Reis: Exposição compila trabalhos desenvolvidos por cerca de 50 pacientes do Caps da Cohab
José Reis: Exposição compila trabalhos desenvolvidos por cerca de 50 pacientes do Caps da Cohab

Em uma sala de terapia ocupacional no Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas), na Cohab, em Presidente Prudente, um grupo de pacientes pinta com serenidade a figura de uma mandala. A escolha do diagrama, que representa a busca pelo equilíbrio e a cura emocional, não se mostra injustificada. As pessoas ali reunidas compartilham o mesmo objetivo: a reabilitação. Em tratamento contra a dependência química, elas encontram na arte um recurso terapêutico para desenvolver mecanismos de defesa, exteriorizar sentimentos e emoções e melhorar seus processos de comunicação. As pinturas, tapeçarias e esculturas produzidas no espaço já são tantas que resultaram em uma exposição, aberta ao público até sexta-feira, das 9h às 15h, nas dependências do local.

De acordo com o psicólogo e gerente da unidade, Audiston Nelson Alves Maciel, além de fazer alusão à Semana da Arte Moderna de 1922, realizada entre os dias 11 e 18 de fevereiro, a mostra é um convite para que as pessoas conheçam a subjetividade de cada paciente assistido pelo Caps. Os trabalhos expostos foram desenvolvidos por cerca de 50 atendidos, que imprimem em telas, linhas e objetos aquilo que sentem no momento. “Ao prestar atenção nas obras, é possível perceber que há algumas mais claras e outras mais escuras, conforme o estado de espírito do paciente naquele dia”, pondera o representante, que destaca ainda a evolução artística dos atendidos. “Alguns começaram com traços bem rudimentares e, aos poucos, foram aprimorando esse processo”, comenta.

 

Conhecendo a dor

Audiston explica que, a partir do momento em que assume o tratamento, o paciente é convidado a compor o grupo de terapia ocupacional, dentro do qual é livre para produzir aquilo que mais lhe agradar. Segundo o psicólogo, além de ser muito segregada socialmente, a dependência química está associada ao desconhecimento da dor humana. “Ninguém nasceu para ser dependente de nada. São as vivências, relações e as formas como o indivíduo absorvem os impactos da vida que, normalmente, fazem com que ele caminhe para a dependência”, argumenta. Nesse sentido, aponta a arte como uma possibilidade de romper com este ciclo de sofrimento e experiências dolorosas. “A arte permite que se expressem por um viés em que possam se colocar sem se machucarem ou machucarem outra pessoa”, enfatiza.

O acervo exposto na unidade faz parte do programa de geração de renda do Caps e, por isso, está disponível para aquisição. Audiston conta que os preços das obras variam de R$ 50 a 200 e toda a verba arrecadada com as vendas será revertida para o autossustento dos pacientes e manutenção das atividades. Em síntese, parte do dinheiro é destinada para os próprios artistas, enquanto a outra fatia é utilizada para a compra dos materiais utilizados na oficina.

A supervisora de Saúde Mental do município, Marly Fernandes dos Santos, elogia a iniciativa, que, a seu ver, “contribui para a reinserção do paciente em sociedade”. “Costumamos dizer que, para estar bem física e mentalmente, o atendido precisa se expressar artisticamente. É por meio da arte que percebemos como se sente naquele dia. Trata-se um retrato do seu estado psíquico”, avalia.

 

Um dia após o outro

Entre idas e vindas ao Caps, um paciente que não quis se identificar à reportagem concordou em ser internado para melhores resultados no tratamento. A fim de manter a sobriedade, ele participa das oficinas de arte ofertadas pela unidade. Em sua opinião, as aulas são uma forma de distrair a mente, relaxar e passar o tempo de forma sadia. “Eu já não sinto mais tanta ansiedade e adoto algumas medidas no dia a dia para continuar lúcido. Procuro evitar lugares que antes eu frequentava e me afastei do meu antigo círculo de amizades. Hoje, eu já não bebo e estou me fortalecendo cada vez mais. Vivo um dia de cada vez”, pontua.

 

SERVIÇO

A exposição segue até sexta-feira, das 9h às 15h, no Caps AD 3, localizado na Rua dos Ipês Roxos, 490, na Cohab. Para mais informações, o telefone de contato é o 3907-6753.


 

 

Publicidade

Veja também