Feridas da vida

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 07/07/2019
Horário 04:10

Enumerando as mágoas, ou feridas da vida, compartilho algumas ideias do monge Anselm Grün no livro “o que nos adoece... e o que nos torna sadios” (editora Ideias & Letras).

Sobre a ferida paterna. Muitas pessoas que procuram um aconselhamento perderam o pai muito cedo, ou nem chegaram a conhecê-lo. Ou então o pai não esteve realmente presente, ou ele se esquivou de sua responsabilidade. O pai geralmente é aquele que fortalece nossa estrutura, que nos dá coragem para a vida, que nos inspira a confiança de ousar e agarrar as coisas. Quando uma pessoa não teve essa vivência, muitas vezes precisa de uma estrutura substituta. E que pode ser uma ideologia, uma regra rígida, atrás da qual ela se esconde. E muitas vezes ela é atormentada por uma forte desconfiança. Possui problemas de autoridade. A desconfiança em relação a qualquer autoridade muitas vezes tem origem em uma experiência negativa com o pai. E essas pessoas, então, encontram dificuldades para confiar em Deus. Nelas, reside uma profunda desconfiança de que Deus não lhes permite viver verdadeiramente, de que as deixa cair, de que as castiga, quando não fazem o que ele quer. Muitas vezes, então, as pessoas sem pai se apoiam fortemente em conselheiros espirituais ou terapeutas, buscam neles o pai ausente.

Sobre a ferida da ausência materna. A mãe dá carinho ao filho e amor incondicional. A mãe transmite ao filho a mensagem de que ele é bem-vindo neste mundo. Desse modo, o filho passa a ter uma confiança primordial na vida. Uma mãe que se ocupa demais com ela mesma não pode dar esse carinho ao filho. A pessoa que não se sente digna do amor de todos a sua volta, e não pode confiar no amor dos pais, muitas vezes sofre de uma perturbação narcisista. É insaciável em sua fome de amor, atenção e dedicação. Essas pessoas perturbadas narcisisticamente são muitas vezes um tormento para os superiores. Querem ter os superiores sempre a sua volta, precisam constantemente se assegurar de que o superior também gosta delas. Ninguém consegue preencher suas necessidades de amor. Vivenciam constantes decepções em seus relacionamentos. Frequentemente se tornam viciadas, em relacionamentos, em álcool ou em reconhecimento. Precisam da contínua admiração do público. Quando, como responsáveis, carregamos esse tipo de mágoa decorrente da ausência materna, frequentemente utilizamos as pessoas para satisfazer nossas necessidades narcisistas.

Nas mulheres, essa mágoa se expressa quando foi usada como confidente pela mãe. A mãe depressiva usou a filha para desabafar. Ela contava à filha seus problemas com o marido, e com isso a sobrecarregava. A filha nunca pode ser verdadeiramente uma criança. Nunca pôde viver a sua própria vida, sempre precisou estar à disposição dos outros. Muitas vezes, esse tipo de pessoa não consegue permitir-se às coisas. Só encontra a realização quando se sacrifica pelos outros... Os homens são magoados pelas mães quando sofrem cobranças, quando, para serem amados como filhos, precisam satisfazer todas as expectativas delas. (...) As crianças são magoadas quando precisam assumir responsabilidade cedo demais na vida. A mãe exige muito da criança. Adulta, essa criança não conseguirá fazer as coisas direito, os outros a cobrarão para que trabalhem mais. Ela não consegue se defender desses julgamentos.

Há outras ‘feridas’, como a dos abusos emocionais. John Bradshaw acha que as mágoas que não encaramos e que não elaboramos obrigam-nos a magoar os outros ou a nós mesmos. Teríamos que aprender a lidar com elas. Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

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