Greve deve ser repensada quando passa a prejudicar serviços básicos  

EDITORIAL -

Data 30/05/2018
Horário 07:30

Encerrado o nono dia da paralisação dos caminhoneiros, que protestam contra a alta do diesel em todo o país, o cenário em Presidente Prudente e em diversas cidades da região - dez já decretaram estado de emergência - não é muito diferente. Os efeitos vão muito além dos transtornos causados no trânsito, com o bloqueio das vias.

Postos sem nada ou com filas enormes quando são reabastecidos. Transporte coletivo operando com 50% da frota em alguns períodos do dia, ocasionando esperas nos pontos e ônibus lotados. Mercadorias em falta nos mercados. As que restam nas gôndolas são poucas e, na maioria dos lugares, dobraram de valor. Aeroporto sem combustível suficiente para o abastecimento das aeronaves que pousam e decolam no local e cancelamentos de voos já registrados ou programados.

O estoque de gás de cozinha se esgotou. Oito usinas da região pararam as atividades. Para não prejudicar os alunos, provas em algumas unidades de ensino estão sendo canceladas e as aulas suspensas. A coleta de lixo também está ameaçada. Operando ontem com apenas um caminhão dos dez que realizam os trabalhos, a Cooperlix (Cooperativa de Trabalhadores de Produtos Recicláveis de Presidente Prudente) interrompe a partir de hoje o serviço. Algumas prefeituras optaram por priorizar aqueles considerados apenas como urgências e emergências. Em outras cidades, até o comércio está fechando mais cedo ou nem funcionando.

Na lista que aumenta a cada dia, a saúde também começa a ser atingida, e quem sofre é a população. O HR (Hospital Regional) Doutor Domingos Leonardo Cerávolo precisou diminuir o tempo da sessão de hemodiálise oferecida no local. Conforme divulgado na edição de ontem, hospitais de Prudente passaram a suspender exames e cirurgias eletivas e a cortar atendimentos não prioritários nos prontos-socorros, por falta de medicamentos e insumos. A categoria afirma que os motoristas não estão proibindo a passagem pelos bloqueios de caminhões que transportam itens essenciais, como remédios, cargas vivas, produtos perecíveis ou oxigênio. No entanto, a realidade é outra e vidas estão em risco.

As reivindicações dos caminhoneiros são justas e têm total apoio dos brasileiros. Orgulho dessa classe de trabalhadores que vivem nas estradas, longe da família, enfrentando o sono, a insegurança, péssimas condições nas rodovias aumentando o risco de acidentes, altos valores de pedágios e combustível, muitas vezes, pagando para trabalhar. A paralisação, porém, não deve colocar em risco a saúde da população.

Falta mais organização entre os próprios motoristas, para liberar, de fato, quem precisa passar. Para saber ao certo, o que almejam. Quando as medidas do governo federal foram anunciadas, “líderes” da categoria diziam que os pedidos tinham sido todos atendidos, enquanto a maioria, pelas redes sociais, garantia que a greve continuava. Em algumas cidades da região, protestos já deixaram de acontecer nesta semana. Em outras, se intensificam. Que juntos, sem afetar o direito à vida e à saúde, persistamos nesta luta, que é de todos nós.

 

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