Microbiota é um determinante da saúde

OPINIÃO - Jair Rodrigues Garcia Júnior

Data 03/07/2019
Horário 05:30

Microbiota é o nome científico para o que as pessoas conhecem como flora intestinal. Os trilhões de bactérias que habitam nosso intestino sofrem influência de nosso estilo de vida e têm efeito direto em nossa saúde.

Em 2006 foram publicados dois artigos científicos na respeitada revista britânica Nature sobre a relação da microbiota com a obesidade. Desde então os pesquisadores parecem ter sido despertados para o estudo desses micro-organismos que vivem silenciosamente em simbiose com o ser humano, mas que alteram desde a função intestinal, processos metabólicos, o sistema imune e o sistema nervoso.

Não por acaso, até 2010 haviam sido publicados 1.208 artigos científicos sobre a microbiota. De 2011 até hoje já foram 22.142 artigos (95% do total) relacionando a microbiota com vários aspectos da saúde humana.

Há diversas espécies de bactérias em nosso trato gastrintestinal (do esôfago até o final do intestino grosso) e todas fazem parte de dois grandes grupos: as bacteroidetes e as firmicutes. Em geral elas convivem num estado de equilíbrio (biose), porém fatores com a alimentação, estilo de vida, prática de exercícios, doenças, uso de medicamentos e outros podem causar o desequilíbrio (disbiose) e problemas de saúde em curto e médio prazo.

Nos estudos da revista Nature de 2006, os pesquisadores demonstraram que obesos apresentavam disbiose, com maior proporção das bactérias do grupo firmicutes, por isso conseguiam aproveitar mais eficientemente as moléculas energéticas consumidas na alimentação. Por outro lado, a abundância da população das bacteroidetes era característica dos indivíduos com peso e índice de massa corporal normais. 

Hoje, a microbiota está fortemente relacionada com o que se domina de “saúde metabólica” e com a função imune. A composição desfavorável da microbiota, com maior proporção de bactérias patogênicas (grupo da Firmicutes) tende a provocar doença de Crohn (inflamação no intestino), síndrome da vesícula irritável e o câncer do cólon.

Como a microbiota produz várias moléculas semelhantes aos hormônios, que são lançadas na corrente sanguínea, interfere no metabolismo corporal dos nutrientes e na função imune. Por isso, pode elevar o grau de inflamação sistêmica crônica, provocar obesidade, diabetes tipo 2 e doenças do sistema nervoso.

O estilo de vida é um modulador da microbiota. Portanto, a alimentação, o consumo de substâncias não nutritivas como álcool, medicamentos e drogas, e a prática de exercícios físicos têm efeito na microbiota. Por exemplo, o consumo regular de iogurte e leite fermentado que contém probióticos, as bactérias denominadas lactobacillus e bifidobacterium, contribui para a absorção de vitaminas e minerais, mantém a tolerância à lactose, tem efeito antidiabético, auxilia no controle do colesterol, aumenta a resistência às infecções, diminui a incidência de câncer do cólon e tem efeito anti-inflamatório local e sistêmico. Outros alimentos que tendem a favorecer a microbiota são os vegetais em geral.

Os sedentários, mas uma vez levam desvantagem, pois já foi demonstrado que o exercício físico regular induz aumento na diversidade da microbiota, com aumento na proporção do grupo das bacteroidetes, principalmente das lactobacillus. Há evidências consistentes sobre a existência do “eixo músculos-microbiota”, ou seja, influência positiva da atividade muscular na composição da microbiota e saúde intestinal. Provavelmente, as citocinas (espécies de hormônios) produzidas pelos músculos ativos e os neurotransmissores secretados pelo sistema nervoso dos indivíduos treinados têm efeito anti-inflamatório no intestino.

Enfim, está na hora de pensar um pouco naquela imensa população de micro-organismos que habita o trato gastrintestinal quando do consumo de alimentos, álcool, medicamentos e adoção de um estilo de vida ativo e saudável.

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