Mistério

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 19/02/2019
Horário 05:02

Os atenienses (Grécia antiga) criaram artisticamente a mitologia. Reverenciavam o mistério, os deuses, o cosmo e tudo que dava sentido à vida. Na mitologia grega o inexplicável era entendido como inviável à capacidade do entendimento humano, então, debruçavam-se no mistério com admiração e respeito. Assim, o mito, a utopia e a fé acompanharam suas vidas e perduraram por toda a história anterior ao Renascimento.

No século 18, o Iluminismo rompe definitivamente com tudo que possa ser metafísico. O chamado século das Luzes, embora tenha tido valor, refletiu também penumbra, endeusou a razão como único caminho para se alcançar a liberdade, o bem, a autonomia e a emancipação do ser humano. Acreditar no que não fosse provado, medido, pesado, cronometrado, seria ignorância. Entretanto, o “mundo maravilhoso” governado pela exclusividade da razão ruiu inexoravelmente no início do século 20, com as duas guerras mundiais, com o nazismo, fascismo e com todo tipo de terror e autodestruição. A impotência da endeusada razão como salvadora da humanidade conduziu ao caos. Nasce a depressão, o estresse, a pressa, a insegurança. O ser humano, não crendo mais na promessa da sua racionalidade transformadora, e sem o encantamento da metafísica, perde-se a si mesmo.  

No final do século 19 e início do século 20, com o desenvolvimento da física moderna, é lançada a semente de um mundo novo. Nasce a mecânica quântica, que descobre que não descobre o mistério do mundo subatômico. Perplexos, os cientistas reconhecem que o essencial é invisível aos olhos, aos microscópios, aos telescópios. Eles manifestam o inimaginável: “Somos na essência energia indestrutível e é a consciência que cria a realidade”.  A física clássica é precisa, mas somente para o mundo macro, ela não explica do que tudo é feito. Os cientistas reconhecem hoje menos de 4% do universo como buracos negros, buracos de minhoca, outras galáxias, a própria galáxia onde nos alojamos; nem mesmo o centro da terra onde pisamos. O princípio da incerteza assumida por eles nada mais é que o “mistério” justificado pelos atenienses da Grécia antiga e por todas as grandes religiões.

As descobertas da física moderna possibilitou também o desenvolvimento tecnológico que temos hoje. O homem nada cria, o homem só copia o que é descoberto do universo e dessas descobertas nasceu toda parafernália tecnológica de que desfrutamos, como televisão, alarmes, GPS, computadores, chips gráficos, pendrives, micro-ondas, smartphones, carros autônomos, casas “inteligentes”, etc. Todos esses aparelhos funcionam através de ondas eletromagnéticas, por meio de radiação infravermelha, etc. A física moderna é a “alma do mundo”. Então, questiona-se: “Por que a física moderna não faz parte dos currículos do ensino nas escolas?”. O que você acha, leitor? Ensinou Einstein: “As coisas mais maravilhosas que podemos experimentar são as misteriosas”. Elas são origem de toda verdadeira arte e ciência. Aquele que não consegue parar para admirá-la e extasiar-se e senti-la; tem seus olhos fechados”.

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