Muros de segurança

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 24/04/2018
Horário 07:58

A Finlândia tem figurado nas primeiras posições do Pisa (Programa Internacional de avaliação de alunos), alternando os três primeiros lugares com Cingapura e China. Uma característica marcante do ensino da Finlândia é a autonomia dos professores. “Nosso segredo sempre foi dar liberdade aos professores e é isso que esperamos promover ainda mais”, disse Sanni Grahn Laasonen, ministra da Educação da Finlândia.  Nas escolas não existem métodos impostos para alfabetizar, nem livros didáticos obrigatórios, nem exigência de como deve o professor ministrar a aula. Esta pode inclusive ser realizada tanto em sala de aula, como numa praça ou mesmo na natureza. Os professores são bem preparados, mas são livres, entretanto, se não conduzirem a resultados desejáveis, são dispensados no final do ano letivo. O que tem a ver, afinal, a educação finlandesa com a brasileira? Nada e tudo. Nada, porque não se copia sistema de ensino. Tudo, porque nada nasce do nada.

Finlândia e Brasil próximos? Talvez seja possível um exemplo foi a Escola Municipal Odette Duarte da Costa, pertencente a um bairro de periferia muito pobre de Presidente Prudente. Essa escola foi considerada um caos, com alunos do 3º, 4º e 5º anos analfabetos, professores que adoeciam por não conseguirem trabalhar em ambiente inóspito. Essa escola, triste, com professores sofridos, tornou-se alegre, colorida, com excelência de aprendizagem e crianças felizes. Tudo fora realizado a partir de um plano piloto trabalhado com diretora, supervisora, coordenadora e equipe de professores; todos comprometidos para reverter aquele quadro. Somente quatro anos tornaram aquela escola em um poema. Pode-se considerar que tal realização constitui um marco histórico para a cidade. 

Embora em Prudente haja escolas públicas do ensino fundamental de qualidade e professores dedicados, por outro, há ainda escolas em condições similares à antiga Odete Duarte da Costa. Chegam a contar 90% de alunos analfabetos no 2º e no 5º ano, conta ainda próxima a essa porcentagem entre os analfabetos de fato ou funcionais. As crianças das nossas escolas no espaço de dez anos serão jovens, então surge o questionamento: “Como será Prudente a cada década?”. Com portas fechadas na família, no convívio social, na escola e no mercado de trabalho, a única porta aberta será o mercado do crime. E continuaremos levantando muros que não oferecerão real segurança, porque são pessoas que praticam crimes e, se não houver formação de valores humanos, que é dever essencial da escola, a violência aumentará.  

Na verdade, ainda não tive coragem, mas sinto vontade de demolir os muros e retirar a cerca elétrica do derredor da minha casa, porque, como profissional da educação há quase 40 anos, questiono em que falhei para viver hoje prisioneira. Em que, nós, educadores, falhamos? Em que os prefeitos, vereadores e, em particular, a Seduc (Secretaria Municipal de Educação de Prudente), falharam? A sociedade prudentina teria também parcela dessa responsabilidade? Causa e efeito é lei da física, o que se omite hoje, a resposta virá amanhã. Se quisermos viver com menos caos social, o “muro de segurança” é seguramente mudar o cenário das instituições que formam nossas crianças os adultos de amanhã.

Publicidade

Veja também