O avanço dos evangélicos

OPINIÃO - Gaudêncio Torquato

Data 11/12/2019
Horário 04:39

BBB: bancadas do boi, da bala e da Bíblia. A sigla é bastante conhecida e tende a ganhar mais fôlego nos próximos tempos. Fiquemos com esta última, começando com a hipótese: a bancada evangélica vai se fortalecer no governo Bolsonaro, na esteira do crescimento do evangelismo no Brasil.

Um conjunto de elementos sinaliza nessa direção: vínculo forte que os evangélicos têm com os valores conservadores, matriz do ideário governamental; grande bancada parlamentar, que soma cerca de 200 deputados e dez senadores; prestígio que o presidente confere aos evangélicos, frequentando cultos, recebendo bênçãos de pastores. Sua esposa, Michelle, é intérprete de libras nos cultos dominicais da Igreja Batista Atitude, no Rio. Já a cerimônia religiosa da união do casal foi oficiada pelo pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus. 

Que fenômenos explicam a expansão dos evangélicos no território, que hoje se aproximam de 24% da população, enquanto os católicos caem para a faixa dos 62%, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)? O que se sabe é que o evangelismo se apresenta como uma entidade viva, tocando diretamente no coração dos fiéis, renovando a liturgia, movimentando plateias, falando de problemas cotidianos e mostrando a trilha para os participantes usufruírem, desde já, os bens terrenos.

Desse modo, a pobreza pode ser revertida por atos e disposição de cada um. Já a Igreja Católica tem na pobreza um dos eixos de sua pregação. Ao tomar posse, o papa Francisco teria dito: “como eu gostaria de uma Igreja pobre, para os pobres.” A menção aos pobres é referência a São Francisco de Assis, cuja vida foi dedicada à pobreza. O papa escolheu o nome de Francisco para evocar o santo. Sem esquecer que Cristo nasceu numa manjedoura. 

Condição para se galgar o edifício da melhoria de vida é o seio familiar. No pentecostalismo, a família assume o papel de um “banco de créditos afetivos, morais e cognitivos”. Preservar a família é, portanto, um dos eixos do credo, com suas “células” que acompanham a dinâmica da vida de seus membros. Indivíduos disciplinados, orientados para o estudo e o trabalho, acabam encontrando a receita do “sucesso”.

Olhemos para os cárceres abarrotados. Quem leva aos presos a mensagem de esperança, de voltar a uma vida saudável, com acesso aos bens materiais, contanto que sigam preceitos e determinadas linhas de comportamento? As igrejas evangélicas. Sob essa crença, presos saem dos cárceres com uma Bíblia na mão.

Em suma, a receita do pentecostalismo é não se conformar com a pobreza. Daí o aceno a melhores dias. O discurso é: o indivíduo é dono do seu destino e, assim, pode direcionar sua vida.

A bancada da Bíblia, com seus fiéis, se infiltra nas malhas do Estado, fazendo emergir o debate: o Estado é ou não laico? Terá o evangelismo influência em demasia na condução do Estado brasileiro? Perguntas que vão abrir o debate.

 

 

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