O país da piada

OPINIÃO - Gaudêncio Torquato

Data 27/05/2020
Horário 04:48

No chiste atualizado, o venezuelano chega perto de Deus e indaga: por que o Senhor tem sido tão injusto com a humanidade? Nosso subsolo contém uma das maiores reservas do mundo em petróleo. Temos um herói que dá brilho à nossa história, Simon Bolívar, hoje mera estampa atrás da cadeira de Nicolas Maduro. Padecemos de fome, miséria. Mais 3 milhões de pessoas já fugiram e  inflação de 2,5 milhões por cento corrói nossa economia. E agora esse bichinho mortífero de nome estranho, Covid-19.

Deus disse: tenho procurado ser justo. Vejam o Japão. Uma tripinha de terra com tufões, mas um gigante tecnológico. Olhe os Estados Unidos, a maior potência mundial, porém atormentada por ciclones que devastam regiões. E mais: olhe para esse Covid-19 que mata milhares no país e contamina milhões. Aliás, esse coronavírus é a resposta para os malefícios que as nações provocam contra a natureza, o ódio e a ambição que impregnam governantes e políticos.

Já viu algo mais lindo que os fiordes da Noruega? Veja o gelo que joguei lá. Botei muito petróleo no subsolo da Arábia Saudita e do Kuwait. Sabe por quê? Para compensar a tristeza de viver sob costumes desumanos.

O venezuelano se deu por vencido quando Deus arrematou: veja o Brasil, com seu imenso território, sol o ano inteiro, costa monumental banhada pelo Atlântico, terras férteis, sem terremotos, ciclones e guerras. A pergunta veio na bucha: e por que tanta condescendência? Deus foi taxativo: conhece o povinho que coloquei lá? Eles não estão livres desse vírus. Veja o governante que foi eleito. E assim terminou a conversa. 

O fato é que o castigo dos céus parece ter chegado ao nosso meio. O Brasil padece hoje da improvisação que baliza as responsabilidades dos homens públicos. A incúria, o desleixo, a falta de planejamento por parte dos gestores públicos estão na base da gravidade da pandemia que assola o país. Crise dentro de crise: crise sanitária, crise econômica, crises políticas em escalada crescente. Muita improvisação.

A ganância, a ambição, o ataque feroz à natureza, a ausência do Estado no cumprimento de suas tarefas constitucionais, são responsáveis pela  ocupação maior dos cemitérios.

Continuaremos a ser um território tomado pela improvisação caso as normas de boa conduta sejam jogadas na cesta do lixo. O momento é de fazer brotar a semente do civismo. A grandeza de uma nação não é apenas a soma de suas riquezas materiais, o produto nacional bruto. Abriga um conjunto de valores, o sentimento de pátria, a fé e a crença, o sentido de família, o culto às tradições e aos costumes, o respeito aos velhos, o amor às crianças, o respeito às leis, a visão de liberdade, a seiva que faz correr nas veias dos cidadãos o orgulho pela terra onde nasceram. Só assim deixaremos de ser o país da piada pronta.

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