Partícula de Deus

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 23/10/2018
Horário 05:02

A partir do big bang, por infinidade de séculos, o universo era caos e energia. Disse o físico inglês Peter Higgs em meado do século 20: uma partícula invisível é responsável pela feitura de toda matéria que é visível no universo. Peter Higgs perseguiu essa partícula por muitas décadas. Era a utopia de um cientista-poeta no olhar do maior físico do mundo contemporâneo, Stephen Hawking. Este apostou que essa partícula não seria encontrada, perdeu.

O acelerador de partículas (LHC) construído entre a Suíça e a França reproduziu os primeiros segundos após o big bang. O objetivo foi investigar como o mundo foi criado, e a composição de tudo que existe no mundo visível. Nesse acelerador as partículas esmigalham-se liberando quantidades de energia em velocidade aproximada a da luz, como ocorreu no big bang. Assim, após 100 milhões de colisões, detectou-se, pela primeira vez, “a partícula de Deus”, que foi perseguida por mais de 60 anos por Peter Higgs. A misteriosa partícula ganhou o nome de bóson de Higgs, em homenagem ao cientista que, aos 83 anos, pensava que não mais teria tempo de comprová-la em vida.   

Sem o bóson de Higgs não haveria o átomo, nem a molécula, nem terra, nem mar, nem sol, nem estrelas, nem galáxias, nem nós e o universo seria um caos. A descoberta dessa partícula, segundo os físicos, é a porta aberta para cientistas terem a explicação misteriosa da energia escura, uma força ainda totalmente desconhecida. Outro mistério a ser desvendado é o que ocorre nos buracos negros e seus atalhos, os misteriosos buracos de minhoca que poderão possibilitar viagens no tempo e atingir outros universos. É a possibilidade de o homem viajar para o futuro e para outras galáxias. Utopia hoje, mas realidade a ser desvendada que Stephen Hawking vislumbra em seu livro “O Universo Numa Casca de Noz”. 

O universo possa talvez ser comparado à síntese de todas as poesias. É inimaginável a imensidão que abarca 400 bilhões de galáxias, cada uma delas contendo mais de 100 bilhões de estrelas, aproximadamente 100 bilhões de planetas semelhantes a terra e, no total, podendo atingir 100 quintilhões de planetas. A terra é infinitamente menor que um grão de areia na imensidão cósmica, onde órfãos estamos. Nesta imensidão, perdidos em busca da casa original, os cientistas encontraram os tijolos originais de tudo que podemos ver: os átomos que construíram tudo que existe no plano material. Talvez um dia cheguemos a resposta da eterna pergunta: Onde estamos no contexto do mundo totalmente desconhecido que existe lá fora? Para onde vamos?

O bóson de Higgs foi batizado com o nome partícula de Deus. Coincidência? Nas palavras do físico Sérgio Novaes, a busca da teoria de todas as coisas é quase que uma busca do divino. E hoje sabemos que com todo avanço científico, ainda 97,2% do universo é misterioso e desconhecido; quanto mais avança a ciência, tem-se consciência de que menos se sabe. Assim a prepotência da racionalidade humana caiu por terra. A ciência decodificou porcentagem ínfima do universo. Como disse Shakespeare: “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia”. Continuaremos céticos, endeusando o positivismo que enaltece a racionalidade, justificando que ela oferece todas as respostas, com a premissa: só é válido tudo que pode ser medido, o que pode ser provado, o que pode ser mensurado.

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