Pecuaristas investem em gado misto e produção leiteira cai 14% na região

Para especialista, produtores têm migrado para a pecuária do corte, em vista do lucro financeiro com ambas as atividades

REGIÃO - THIAGO MORELLO

Data 16/05/2018
Horário 09:58
Arquivo - Uso do gado na 10ª RA tem sido misto, tanto para corte quanto para produção de leite
Arquivo - Uso do gado na 10ª RA tem sido misto, tanto para corte quanto para produção de leite

Em um período de dois anos, a produção da 10ª RA (Região Administrativa) do Estado, cuja sede é em Presidente Prudente, perdeu 31.169.960 de litros na produção leiteira. Os dados disponibilizados pelo IEA (Instituto de Economia Agrícola) mostram que enquanto em 2015 o ano foi encerrado com a geração de 221.767.960 litros, em 2017 a produção chegou a 190.598.000 litros (veja tabela) – o que representa uma redução percentual de 14%. Por sinal, um estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revela que o abate de bovinos cresceu no país, o que contempla a ideia de quem entende do assunto, ao avaliar que a situação é reflexo de uma pecuária regional que tem sido trabalhada de forma mista, tanto com o corte, quanto para a produção de leite.

Tal afirmação pode ser justificada pela destinação do rebanho na região. Por exemplo, também como pode ser visto em tabela, o número de cabeças de gado utilizadas para produção de leite diminuiu de um período para o outro, com 12.224 (-6%) a menos. Por outro lado, o gado para o corte aumentou em 45.438 novas cabeças (4%).

O engenheiro agrônomo Wilson Antônio de Barros, do EDR (Escritório de Desenvolvimento Rural) de Prudente, explica melhor a questão do gado misto. Ele afirma que o produtor tem destinado a aptidão do rebanho para ambas as atividades, a fim de não perder lucro. “Se a reprodução acarreta apenas no nascimento de machos, o destino não tem outro a não ser o corte, já a fêmea não. Então, isso também conta bastante”, completa.

O que também vai interferir nessa aptidão é a tecnologia empregada para cada atividade, ainda conforme Wilson. Por exemplo, a infraestrutura para manejo, o pasto, também implica o que foi perdido ao longo tempo, “uma vez que o alto custo para a criação de uma raça de mais qualidade tem deixado a desejar. É aquilo, ganhar pouco é melhor do que não ganhar nada. E um custo menor também é sinônimo de uma rentabilidade maior”, destaca o engenheiro.

Entretanto, ele analisa que o futuro promete ter um aumento maior na produção de leite, em vista da crise política que envolveu os grandes frigoríficos. “O pecuarista acaba ficando sem confiança para quem vender e destinar o gado para o corte, o que faz a atividade mudar novamente”, pontua. Essa tendência de segurar o rebanho um pouco mais pode ser deixada de lado e a pecuária começar a reagir um pouco.

O que Wilson também lembra é que a partir do momento em que o gado é utilizado de forma mista, a genética mistura e a criação muda um pouco. Por fim, ele ressalta que em muitos casos, o produtor só vai saber se realmente compensa destinar um rebanho para o corte ou produção leiteira, um bom tempo depois do nascimento. Os números levantados referentes à 10ª RA são compostos pela produção de cada EDR existente na região, ou seja, a soma das sub-regiões de Prudente, Dracena e Presidente Venceslau.

 

Produtor herói

Aos olhos de quem lida com o mercado, o produtor tem sido um herói nesse cenário atual. Pelo menos é a fala do pecuarista Mencius Mendes Abrahão, que tem o rebanho destinado para o corte. Ele analisa que a migração de uma atividade para a outra tem sido realmente percebida, uma vez que a rentabilidade também tem sido melhor. “Na verdade, eu acho que o mercado está sacrificando o produtor, pois não há subsídios e políticas que auxiliem a categoria, principalmente por parte do governo”, argumenta.

Sobre a afirmação de que a crise não afeta a agricultura e pecuária, Mencius discorda. “Estamos vivendo um ciclo de abates em crise, com encarecimento do preço dos bezerros, que vai produzir um reflexo futuramente. O aumento do custo com a produtividade também tem sido alto”, reconhece. Mas isso já foi diferente em épocas anteriores, uma vez que a rentabilidade já foi melhor, conforme o próprio pecuarista declara.

 

PRODUÇÃO DE LEITE NA 10ª RA

EDR

2015

2016

2017

Variação 2015-2017 (%)

Dracena

41.991.960

40.907.000

38.907.000

-7

Presidente Prudente

52.501.000

62.902.500

55.631.000

6

Presidente Venceslau

127.275.000

107.711.140

96.060.000

-25

Total

221.767.960

211.520.640

190.598.000

-14

Fonte: IEA

REBANHO NA 10ª RA

EDR

2015

2016

2017

Variação 2015-2017 (%)

Para corte

Para leite

Para corte

Para leite

Para corte

Para leite

Para corte

Para leite

Dracena

179.676

13.295

178.084

12.916

173.765

14.974

-3

13

Presidente Prudente

539.075

82.390

534.518

85.218

545.285

104.709

1

27

Presidente Venceslau

482.694

99.275

490.133

81.348

527.833

63.053

9

-36

Total

1.201.445

194.960

1.202.735

179.482

1.246.883

182.736

4

-6

Fonte: IEA

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