Pegue e Pague: exercício de honestidade

Artesão, Vagalume decidiu que para vender suas “bolachas” de madeira, confiaria nas pessoas; lá, os clientes pegam as peças e deixam o dinheiro na caixa de correspondências

VARIEDADES - MARCO VINICIUS ROPELLI

Data 22/03/2020
Horário 08:25
Isadora Crivelli: Vagalume mostra o primeiro trabalho que fez como marceneiro, ainda no Senai
Isadora Crivelli: Vagalume mostra o primeiro trabalho que fez como marceneiro, ainda no Senai

“Falta oportunidade de o povo mostrar que é honesto”, afirma o marceneiro e artesão Eurides Mariano, 60 anos, conhecido por todos como Vagalume. Ele acreditou na honestidade humana e não se decepcionou. Em frente à sua casa, onde funciona seu ateliê, Vagalume, com a ajuda da esposa, a cabelereira Norma Sueli Sanches, 62 anos, instalou um Pegue e Pague, onde vende “bolachas” retiradas de tronco de árvores. O pagamento, a placa pede (veja foto) que seja realizado na caixa de correspondências do casal.

Os cortes horizontais nos troncos, que formam círculos de madeira, são muito usados em decoração, explica Norma. Muitos buffets, fotógrafos de alimentos e joias, por exemplo, são clientes deste Pegue e Pague. Vagalume afirma que em pouco menos de um ano que instalou a estrutura em frente à residência, na Rua Barão do Rio Branco, 1554, nunca houve qualquer roubo notável. Ele afirma que não há um controle rígido da quantidade de peças e do valor em dinheiro que representam, mas de qualquer forma, tem notado respeito e honestidade da população.

“Muitas vezes quando as pessoas não têm valor trocado, elas chamam e pedem troco, outras pegam a madeira e voltam quando podem para pagar”, relata Vagalume. Ele ressalta, inclusive, que o local já tem servido até de ponto turístico e sala de aula ao ar livre. Muitos passam pelo local e costumam fotografar o Pegue e Pague. “Tem mães que vem buscar as ‘bolachas’ e pedem para os filhos colocarem o dinheiro na caixinha de correspondência para mostrar a eles a importância da honestidade”, pontua o artesão.

Ele espera que a ideia deles sirva de exemplo para outros empreendimentos prudentinos, visto que, está provado que dá certo. Além disso, Vagalume lembra dos benefícios econômicos, visto que, não há qualquer gasto com atendimento.

MARCENEIRO QUE VIROU ARTESÃO
Em 1974, Vagalume fazia curso de marcenaria no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Lembra-se e se sente agradecido, até hoje, ao professor, já falecido, Luiz Rodrigues, que o ensinou lidar com madeira, e acima de tudo, ser honesto.

Ele trabalhou por muitos anos como marceneiro, até que em 2016 sofreu um acidente enquanto trabalhava, uma queda que o deixou, durante seis meses em cadeira de rodas e mais algum tempo usando muletas. Dali em diante, ele não pode maios atuar como antes. Fechou a marcenaria e precisou se reinventar. “Não sei fazer outra coisa”, brinca Vagalume. Ele, portanto, continuou mexendo com madeira, mas desta vez como artesão, fazendo tábuas, mesas, guarda-facas, enfeites e afins.

A madeira utilizada por Vagalume é comprada ou, a maioria, retirada de ecopontos, madeira de árvores cujo corte fora autorizado pela prefeitura prudentina. Os pedaços finos, com os quais não era possível desenvolver seu artesanato, ele decidiu vender (quatro “bolachas” por R$10) e criou seu Pegue e Pague.

“A ideia é continuar, não vai acabar, enquanto tiver madeira e eu estiver aqui, o Pegue e Pague continua”, fala sorrindo o artesão.

“Tem mães que vem buscar as ‘bolachas’ e pedem para os filhos colocarem o dinheiro na caixinha de correspondência para mostrar a eles a importância da honestidade”
Eurides Mariano “Vagalume”

 

 

 

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