Peixe de Granja na Semana Santa

O Espadachim, um cronista sem contrato verde e amarelo

OPINIÃO - Sandro Villar

Data 09/04/2020
Horário 05:33

Como assim, minhas senhoras, meus senhores e jovens? Surpresos com a expressão peixe de granja no título da crônica? Nada de surpresa, caríssimos e caríssimas (nossa, que cronista educado com seus leitores). Peixe de granja existe. É uma ironia minha para designar o peixe criado em cativeiro.

Qual a diferença entre o peixe que come ração no tanque e o frango que não para de comer ração na granja? Nenhuma. É tudo a mesma sopa, como diz o Mino Carta. Peixe no tanque e frango na granja não se movimentam e, por isso, não são tão saborosos, como os criados livres na natureza.

É tradição comer peixe na Semana Santa, mas peixe bom mesmo - e saboroso - custa os olhos da cara e cuidado para você não ficar cego. Atum, bacalhau, salmão, garoupa, pescada cambucu, pintado e outros peixes nobres são "iguarias" para quem pode, enfim, para quem põe a mão no bolso e retira ao menos R$ 100. Isso mesmo: cenzinho, se me permitem o neologismo.

O povão mesmo, que mata cachorro a sussurro e não mais a grito, vai de sardinha e tilápia na Semana Santa. Ah, a tilápia! Sou mais um lambari frito. Peixe de cativeiro a tilápia e, quase sempre, sem sabor, assim como o salmão, a maioria de cativeiro. Sim, de cativeiro.

Isso mesmo: o salmão vendido nos supermercados vem, em grande quantidade, do Chile, onde é criado em grandes tanques. A criação de salmão causou grandes estragos ao meio ambiente no Chile. Não é um salmão saboroso. Saboroso é o salmão selvagem do Alasca e não sei se esse salmão está à venda por aqui. Sobre isso, vou consultar o Sinomar, que deve manjar um bocado de gastronomia.

Entre sardinha e tilápia, acho que a primeira é mais deliciosa, apesar das espinhas, mas espinhas de sardinha a gente dá um jeito de "triturar". A sardinha, em matéria de proteína, é o melhor peixe do Atlântico Sul, enquanto o arenque é o melhor do Atlântico Norte, segundo alguns nutricionistas. Que fique claro: arenque e sardinha podem não ser os mais deliciosos, mas superam todos os outros peixes no "quesito" proteína.

Há pelo menos 24 mil espécies de peixes nos mares, rios, ribeirões e lagos deste mundão velho sem porteiras. Desse total, cerca de 4 mil estão no Brasil e países vizinhos. O brasileiro não é muito chegado no consumo de pescado. A média gira entre 9,5 quilos e 14 quilos per capita - ou por pessoa - por ano. A média mundial é de mais de 20 quilos por habitante.

Nenhuma surpresa com o baixo consumo no Brasil, onde peixe, até certo ponto, é comida de rico. Se tem pobre comendo garoupa ao molho de tomate cereja, ótimo!

Lembram daquela campanha do governo incentivando a população a comer mais peixe? Com esse preço mais alto do que bambu, como consumir peixe, cara-pálida? Teve até Ministério da Pesca ou algo parecido justamente para incentivar - e aumentar - o consumo.

Com tanto atravessador entre o pescador e o consumidor, será difícil aumentar o consumo. O jeito é a maioria se contentar com tilápia de cativeiro na Semana Santa e em outras semanas. Ou com um cascudo ao molho branco.   

DROPS

Ministro de Israel com a Covid-19 disse, antes de ficar doente, que a doença é um castigo de Deus contra os gays. Não sabia que ele era porta-voz do Altíssimo.

Mito e Mandetta reúnem-se em Brasília. Um passou a mão na cabeça do outro e não houve puxões de orelhas.

Às vezes, a verdade só vem à tona se o mergulhador for competente.

Muita calma nessa hora. Nos minutos e segundos também.

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