Pequenas lições de grandeza

OPINIÃO - Gaudêncio Torquato

Data 30/10/2019
Horário 04:45

Em “Seis Propostas para o Próximo Milênio”, palestras que pronunciaria durante o ano letivo de 1985-86, na Universidade de Harvard, se a morte súbita não interrompesse sua obra, Ítalo Calvino tratou de objetos literários que gostaria que a humanidade preservasse na nova era. 

Na trilha das propostas, roguemos que os nossos governantes e políticos tornem-se compromissários do valor da leveza. Diante da constatação amarga de que o esforço do governo para resgatar nossa economia não tem quase alterado o mapa do desemprego e melhorado a vida da população, nossas preces apelam para que o país seja capaz de iniciar a correção da monstruosidade registrada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística): o rendimento total dos 10% mais ricos é superior à soma dos 80% mais pobres. As coisas precisam ser feitas com urgência. Não esperem os governos pelo último ano das administrações.

Já o segundo valor, a rapidez, preenche as expectativas das ruas, sendo a resposta que o povo quer nesse ciclo de explosão das comunicações. Brasileiros estão cansados de ouvir a lengalenga dos idos dos nossos bisavós, que, por décadas, ouviram a cantilena de políticos: “Vamos construir a Pátria dos nossos filhos”. Urge reconstruir a Pátria, já, sem delongas.

O Brasil que ressurgiu da eleição de outubro de 2018 espera por exatidão, esse valor tão massacrado nesses tempos de fake-news.

As malhas do poder invisível carecem ser escancaradas. Daí a necessidade de darmos força à visibilidade para se possa acreditar nos governantes e nos representantes do povo.

Nossa cultura miscigenada abriga valores nobres da vida - o respeito, a lealdade, a fé, o companheirismo, a dignidade, a ética. Trata-se, assim, de observar e promover a multiplicidade (o quinto valor) dos sujeitos, das vozes, dos olhares sobre a nossa realidade.

A última lição de Calvino trataria do tema da consistência. Nesse caso, fiquemos com sua intenção de resgatar o valor da responsabilidade nas atitudes e ações, que implica seriedade, densidade, peso.

O Brasil, ao final de segunda década do novo milênio, precisa resgatar o valor da humanidade, esse que mereceu de Confúcio a máxima: “a humanidade é mais essencial para o povo do que água e fogo. Vi homens perderem sua vida por se entregarem à água ou ao fogo; nunca vi alguém perder a vida por se entregar à humanidade”.

 

 

 

 

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