População deve olhar com atenção demandas por trás da paralisação

EDITORIAL -

Data 26/05/2018
Horário 11:27

A paralisação dos caminhoneiros em todo o país e os bloqueios nas rodovias consistem nos assuntos que não saem dos noticiários, das redes sociais e das conversas cotidianas nos últimos cinco dias. Os impactos foram escalonando de tal forma que hoje serviços públicos, comércios de modo geral, abastecimento de combustíveis e alimentos foram prejudicados em todo o país. Não foi diferente na região de Presidente Prudente, que contou com manifestações de caminhoneiros ao longo dos últimos anos, mas não era afetada dessa forma desde os racionamentos dos anos 1970, durante a gestão do José Sarney.

Mais uma vez, a administração federal está diretamente ligada às filas dos postos, visto que a “greve” foi resultado da política de preços adotada em 2017, de acompanhar a oscilação internacional dos preços do petróleo, levando a um aumento acumulado de 55% no preço dos combustíveis no país. Ação essa que contrapôs a política – também equivocada – de usar o valor do barril como forma de controlar a inflação internamente. Sem um “meio termo”, uma fórmula que não fique tão discrepante do cenário externo, mas que também traga reajustes com previsibilidade e critérios, o caos se instaurou. Para piorar, a resposta dada também não parece a mais razoável, afinal, cortar impostos pode estrangular ainda mais a arrecadação dos entes federados, reduzindo investimento público e agravando a recessão econômica, retrocedendo a recuperação da crise.

Infelizmente, ao que parece, o presidente do país é bastante adepto das medidas paliativas e simplórias - como adotar a intervenção militar para lidar com todos os problemas complexos que as políticas públicas não conseguiram conter. Ainda assim, não deixa de ser irônico que os mesmos caminhoneiros que pediam em faixas por militares no poder acabaram se vendo prejudicados pelo atendimento da própria reivindicação. É importante também que nesse momento a população compreenda as reais demandas por trás desses atos que ocorrem ao longo do país. A principal exigência da “greve” é da redução no diesel.

No entanto, demandas trabalhistas (como descanso remunerado, por exemplo) não têm espaço nessa pauta, supostamente elaborada por “caminhoneiros autônomos”. Além disso, apenas hoje, após o “descumprimento” do acordo firmado entre o governo federal e “lideranças” do movimento o poder público informou que investigaria indícios de locaute no movimento. No entanto, esse fenômeno - que consiste basicamente no envolvimento dos “patrões” (distribuidoras e transportadoras, nesse caso) nas paralisações – já era denunciado por economistas e lideranças políticas desde o início dos manifestos. Nesse cenário, devemos fugir das respostas simples e analisar todas as variáveis que influenciam esse cenário, sem pressa para taxar um veredicto sobre as causas, as consequências e as soluções para o grande problema que encaramos.

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