O que já era previsível acabou por ser comprovado ontem em pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) com base em dados coletados pela Pnad-C (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) e publicada neste diário. No ano em que preço do gás de cozinha teve alta histórica, 1,2 milhão de domicílios brasileiros passaram a usar também lenha e carvão como alternativa para cocção de alimentos. Segundo o órgão, em 2017, 12,3 milhões de domicílios usaram lenha ou carvão como combustível no país, número que representa um crescimento de 11% com relação aos 11,1 milhões verificados no ano anterior. É o brasileiro cassando com gato na ausência do cão, se virando do jeito que dá para sobreviver em meio a maior crise econômica da história recente do país.
Não é segredo para ninguém a capacidade do brasileiro de se reinventar. O nível de resiliência que corre no sangue tupiniquim excede em muito o de outros povos. Fruto dos percalços enfrentados pelo país desde o descobrimento, que no último dia 22 de abril completou 518 anos, e o trouxeram até aqui.
Mas o que parece é que essa capacidade que o brasileiro tem de “carregar o piano” deu brechas aos mandos e desmandos daqueles que estão no poder. “Eles conseguem, vamos espremer mais um pouco!”, dizem eles, enquanto apertam o sedém e arrocham a espora. Mal sabem que o boi pula para derrubar o peão, que são os políticos, dentro ou fora dos oito segundos. Uma hora ele cai, é inevitável.
A população está cansada de suportar sozinha o peso das distorções cometidas pelos políticos. Cansada de ter que aposentar o fogão a gás para voltar ao velho fogão a lenha. Aqueles que estão no poder porque foram colocados lá pelo povo precisam começar a olhar para parte de baixo da pirâmide e promover políticas públicas que aliviem a carga, caso contrário a estrutura pode começar a ruir. Enquanto isso o brasileiro leva sua “vida de gado”, marcado, mas feliz, seja com o fogão a gás ou a lenha.
