Por mais acessibilidade e inclusão social

Presidente da Associação dos Surdos de Prudente, Carlos Ivan Gonçalves Vilhalba, fala sobre as dificuldades enfrentadas pelos deficientes auditivos no dia a dia

PRUDENTE - THIAGO MORELLO

Data 15/10/2019
Horário 09:15
José Reis - Intérprete, a prudentina Isabela intermediou a entrevista com Carlos: "Ser a voz de alguém demanda confiança"
José Reis - Intérprete, a prudentina Isabela intermediou a entrevista com Carlos: "Ser a voz de alguém demanda confiança"

Na última contagem do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), feita no Censo Demográfico 2010, Presidente Prudente contava com 9.052 pessoas que possuíam algum tipo de deficiência auditiva. De lá para cá, eventualmente, o número pode ter mudado, assim como o cenário enfrentado pelo público. Pelo menos a mudança comportamental é garantida pela ASSPP (Associação dos Surdos e Surdas de Presidente Prudente), que mesmo apontado uma melhora na qualidade de vida das pessoas que sofrem determinada limitação, no dia a dia, ainda pede mais acessibilidade e inclusão social na cidade.

De antemão, para fazer parte desta transformação e entender as necessidades do público, o presidente da associação, Carlos Ivan Gonçalves Vilhalba, afirma que primeiro é preciso entender as causas e a diferença entre a surdez e a deficiência auditiva. “A perda auditiva pode ser resultado de diversos fatores, como os genéticos, hereditários, sequelas de doenças infecciosas, uso de medicamentos e drogas, rompimento do tímpano, excesso de exposição a ruídos”, enumera.

Mas o mais importante de tudo é compreender que, independentemente de como a pessoa deseja ser chamada ou como a sociedade a classifica, Carlos lembra que ela é primeiramente um ser humano com todos os direitos e precisa de respeito, liberdade, autonomia e dignidade para ser quem quiser ser. “Para isso, é essencial que a sociedade ajude nessa inclusão, fornecendo mais auxílio, se preparando mais e aprendendo Libras [Linguagem Brasileira de Sinais]”, pontua.

Porque quando isso não ocorre, segundo o presidente da entidade, o deficiente passa pelo constrangimento de não conseguir ser atendido em um posto de saúde, um médico, um supermercado, uma loja, por exemplo. “É difícil, porque às vezes, quando uma pessoa que não tem deficiência encontra uma que tem e não sabe falar a linguagem de sinais, tenta escrever para que a outra leia, mas alguns também não sabem o português e não sabem ler”, diz. Isso ocorre, conforme Carlos, pela falta de políticas públicas que auxiliem ambos os lados.

Em Prudente, por exemplo, não havia inclusão efetiva para a comunidade surda, mas apenas alguns cursos de Libras oferecidos pela Biblioteca Municipal. Mas em 2005, com a criação do Decreto 5.626, que regulamentou a Lei 10.436, de 24 de abril de 2002, ocorreu a obrigatoriedade de haver intérpretes de Libras nas escolas, em palestras, locais públicos, em horários políticos e outros.

O governo do Estado e a Prefeitura foram procurados para reportagem, a fim de entender o que ambas as instâncias oferecem aos surdos e deficientes auditivos, quando o assunto é preparo no atendimento em locais públicos. Entretanto, nenhum dos dois se manifestou até o fechamento desta matéria.

Esporte

Hoje, a associação, fundada em 2016, atende 80 pessoas adultas e 30 crianças que são surdas ou possuem alguma deficiência auditiva, oferecendo auxílio na alfabetização e curso de Libras, ao passo que também recebe pessoas sem a limitação para o aprendizado. Além disso, aos poucos, a entidade efetua o trabalho esportivo, com direito à participação em campeonatos: vôlei e futebol para homens e mulheres, segundo Carlos. Futuramente, conforme a adesão dos próprios assistidos, a ideia é incluir o basquete também.

Intérprete

Toda a entrevista foi feita como auxílio da intérprete Isabela Marinho Menezes, prudentina, que é especialista em Libras e atua como tradutora/interprete de Libras do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins. Na função, ela convida à sociedade, para que haja o interesse em buscar mais essa especialização, na intenção de promover mais acessibilidade e inclusão. “Ser a voz de alguém é difícil, é um processo que demanda confiança, mas é importante que seja feito”, pontua.

Serviço

A ASSPP oferece curso de Língua Brasileira de Sinais, com duração de 4 meses. As aulas são ministradas no salão paroquial da Catedral de São Sebastião, que fica localizada na Rua Barão do Rio Branco, 681, centro. Os telefones de contato são (18) 98183-9010 e (11) 98624-8998.

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