Pressuposto de que brinquedo tem gênero perpetua o preconceito

EDITORIAL -

Data 05/08/2018
Horário 04:00

Uma das principais expectativas de um casal em gestação é a descoberta do sexo do bebê. A notícia não só abre possibilidades para a escolha do nome, como define todo o ambiente que cercará esta criança após o nascimento, desde as paredes do quarto até os brinquedos com os quais entrará em contato. O consenso é quase sempre o mesmo: azul para os meninos e rosa para as meninas. As convenções sociais não ditam apenas as cores recomendadas para cada gênero, mas os brinquedos que poderão estar ao alcance do público infantil. Para as garotas, as vitrines expõem as casinhas de bonecas e os kits para que possam simular atividades domésticas, como cozinhar, passar roupa, entre outras. Aos garotos, há os bonecos de guerra, os carrinhos de controle remoto e assim por diante. Há, já nesse ponto, uma discussão de desigualdade de gênero a ser suscitada, mas este editorial se concentrará em outra.

Não só os brinquedos “masculinos” e “femininos” são devidamente controlados pelos pais, como as atividades posteriores. O menino pratica futebol e a menina, balé. Mas por que os dois sexos não podem transitar entre um e outro? A edição de ontem deste periódico contou a história do bailarino Filipe Celso de Oliveira Bueno, que desafiou a premissa de que o lugar do homem é no esporte e passou a se dedicar àquilo que realmente lhe interessava: o balé. O universo da dança para o público masculino ainda é tão inexplorado que uma escola de Presidente Prudente chega a conceder bolsas para os garotos realmente interessados. Ou seja, se há espaços abertos para este gênero, por que ainda não estão ocupados?

Justificada principalmente pelo enraizamento do machismo na sociedade, a restrição de gênero pressupõe a ideia de que o menino ao brincar de cozinha e a menina, de carrinho, implicará diretamente em sua orientação sexual, quando, na maior parte das vezes, o pequeno só deseja fazer algo que gosta ou compartilhar uma brincadeira. A sexualidade não pode e nem deve ser medida pela cor ou brinquedo pelo qual uma criança se interessa, sobretudo durante a infância, momento em que inibir a vontade deste público pode fazer com que perca experiências de formação, perpetue preconceitos e estereótipos e tenha suas escolhas profissionais limitadas, já que os rótulos norteiam até mesmo quais graduações os jovens devem cursar. Sendo assim, desde a idade mais tenra, que tal deixar as crianças selecionarem seus próprios brinquedos?

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