VALTER TREVISAN: ACADÊMICO DO BRASIL

Professor e maestro assume cadeira na Academia de Música no Brasil; uma conquista individual, mas de caráter coletivo como motivo de orgulho para Prudente

PRUDENTE - HOMERO FERREIRA

Data 15/12/2019
Horário 09:35
Isadora Crivelli - Valter Trevisan: "Feliz pelo reconhecimento proporcionado pela Academia de Música do Brasil"
Isadora Crivelli - Valter Trevisan: "Feliz pelo reconhecimento proporcionado pela Academia de Música do Brasil"

A expressão “da gema” refere-se a alguém que nasceu e se criou num mesmo lugar, muito usada para inflar os cariocas em seu ufanismo, termo que remete ao orgulho de alguém ser de um determinado lugar. O professor e maestro Valter Luiz Trevisan é prudentino da gema, nascido, criado e morador do berço de Presidente Prudente: a Vila Marcondes. Certamente tem o espírito ufanista, como na produção da obra literária de Afonso Celso (1860-1938) “Porque me ufano do meu país”, que se mantém atual e foi recentemente publicada em versão eletrônica pelo eBooksBrasil na condição de uma espécie de cartilha de nacionalidade.

Não exatamente o prudentino, mas o morador da cidade tem do que se ufanar e cada um deve ter sua lista de preferências, na qual agora pode acrescentar o nome de Valter Trevisan como orgulho de Prudente. Profissional inserido no desenvolvimento musical no país e que acaba se assumir a “cadeira Barrozo Neto” na AMB (Acadêmica de Música do Brasil) com sede do Rio de Janeiro. Além dos títulos e medalhas de imortal e de conselheiro perpétuo, a convite do presidente Luís Roberto von Stecher Trench assume o cargo diretor-adjunto da entidade.

A música está desde sempre na vida do personagem desta reportagem de O Imparcial, pela sua mãe Maria Marochi Trevisan, que cantava na igreja que se tornou o Santuário de Nossa Senhora Aparecida; e pelo pai Anélio Trevisan, técnico em eletrônica que consertava rádio, televisão e toca-discos e que tinha apreço pela música erudita, ouvida em discos de vinil e no rádio. Os pais de Valter têm dois primos ilustres: a mãe, o bispo Dom Agostinho Marochi (1925-2018); e o pai, a pesquisadora Dra. Zizi Trevisan. Anélio era prudentino, nascido no bairro Montalvão, filho do italiano Ettori Trevisan e de Rosa Jacomini Trevisan.

A descendência italiana vem também do avô materno Alberto Marochio (com ó no final), casado com Maria Bovo Marochio, sendo que a filha Maria Morochi (com i no final) nasceu em Presidente Bernardes. Valter é o quarto de cinco filhos. O mais velho era Luiz Fernando, seguindo-se o Jorge Manuel, técnico eletrônico igual ao pai; Silvia Helena, professora aposentada; e o caçula Anélio Trevisan Júnior, cinegrafista. Ainda criança, Valter começou a estudar piano informalmente, com duas vizinhas da casa de seus pais.

COMEÇO NA

ESCOLA JUPYRA

Nascido em 13 de dezembro de 1958, no começo dos anos 1970 ingressou no ensino formal de música no Conservatório Municipal Dramático e Musical, que deu origem à Escola Municipal de Artes “Professora Jupyra Cunha Marcondes”.  Época em que Jupyra (1906-1974) era diretora e o acolheu a pedido de Ivan Nogueira de Almeida, casado com sua tia Cida, e que mais tarde foi presidente da Câmara de Vereadores. Como aluno, em sete anos de piano, Valter acompanhou as mudanças de sede da Rua Rui Barbosa para a Avenida Manoel Goulart e depois ao bairro do Bosque.

Valter deu aulas no próprio conservatório, inicialmente na Rua Napoleão Antunes Ribeiro Homem, onde atualmente está o Fundo Social de Solidariedade. Posteriormente, no Centro Cultural Martarazzo, até se aposentar. Em paralelo à música, fez o ensino básico em três escolas públicas: Dr. José Foz, na Vila Furquim; Comendador Tannel Abbud, no Parque Furquim; e IE (Instituto de Educação) Fernando Costa, no centro da cidade. Na parte inicial dos seus estudos musicais, obteve a permissão do padre para ensaiar em tocar harmônio (instrumento similar a órgão) em missas e casamentos.

Mas, sua vocação e determinação motivou seu pai a comprar um piano alemão de Genebra Trevisan, prima dele. É uma lembrança que acompanha Valter, até pela surpresa de voltar da escola e ver o instrumento já devidamente em seu lugar, pronto para ser tocado. Iniciativa que contribuiu com seus estudos de piano e o acompanhou em sua escalada que passou pelo Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, em Tatuí (SP). Na Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) fez o curso de Educação Artística, com habilitação em Artes Plásticas.

Também fez Educação Artística na Faculdade Marcelo Tubinambá, com habilitação em Música. Na Unoeste fez Pedagogia com habilitação em Administração Escolar, e mestrado em Educação, instituição na qual leciona desde 1993 e onde também é coordenador dos cursos superiores de Música: um em bacharelado e outro em licenciatura. Atuou no Projeto Guri, nos polos de Bernardes e de Presidente Venceslau. Na escola do Sesi (Serviço Social da Indústria) em Prudente lecionou educação artística. Foi aprovado em concurso estadual, mas ficou pouco tempo como professor no IE.

LONDRINA E

PRUDENTE

Em 1995 abriu em Londrina (PR) o Klarin Centro de Artes Integradas, em sociedade com Katia Calil, sua esposa na época e hoje sua colega e vizinha no prédio onde moram, na Vila Marcondes. A efervescência cultural da cidade paranaense os atraiu, mas as viagens foram o principal motivo para que no ano seguinte transferissem o Klarin para Prudente, que funcionou até 2016. Valter Trevisan mantém uma vida dinâmica: além de tudo, ainda toca em casamentos e há 18 anos está à frente dos Domingos Musicais na Casa do Médico, sempre no segundo domingo de cada mês, às 10h.

Pai de três filhos, o primogênito Pedro, de 36 anos, é especial (síndrome de Down) e toca bateria, canta, produz poesias e pinta quadros. Rafael, de 32, relações públicas pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), pós-graduado pela PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica), é gerente de inovação da Fiep (Federação das Indústrias do Paraná). Aline, de 30, fez Fisioterapia na Unoeste e atua na área de estética, sócia do Studio Lotus Beauty Center. Yasmin, de 14, é filha de sua esposa Luciane, com quem está casado há 10 anos e assumiu a dupla paternidade da adolescente que tem em seu registro os sobrenomes Gomes, da mãe; Omote , do pai biológico; e agora Trevisan.

Valter Trevisan vive a alegria de ser avô de Valentina, de 1 ano e dois meses, filha de Aline e do engenheiro civil Giordano Kalil Azevedo. Está feliz com as honrarias de ser acadêmico da música no Brasil, mais em razão do reconhecimento ao seu trabalho por gestores culturais tão distantes de Prudente, do que ser considerado imortal.  Distinções compartilhadas com o professor e maestro Marcos Júlio Sergl, também de Prudente, ex-aluno da “Escola Jupyra” radicado em São Paulo e que na AMB ocupa a cadeira que tem como patrono Roberto Schnorrenberg.

Ainda em comum, os dois imortais foram regentes de corais. Trevisan, do Santa Cecília e do Santo Inácio de Loyola. Sergl, do Villa-Lobos. Todos em Prudente. Da infância, Valter guarda as lembranças de brincadeiras na rua, da educação física na escola por obrigação, do prazer de estudar, tocar e ouvir música clássica nas rádios Jornal do Brasil, Eldorado e MEC, do então Ministério da Educação e Cultura.

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