Voto útil sufoca possibilidade de reformas estruturantes e mudanças

EDITORIAL -

Data 21/09/2018
Horário 05:59

Uma boa notícia chega hoje às páginas deste diário: o repasse de R$ 6,8 milhões pelo Governo do Estado ao HRC (Fundação Hospital Regional do Câncer de Presidente Prudente), aparentemente, não foi só “promessa política”. É verdade que o valor desse convênio firmado entre as partes é bem inferior ao anúncio inicial de R$ 25 milhões, mas ainda assim, sua concretude transforma toda a realidade da unidade de saúde. Isso porque, ontem foi confirmado o recebimento de metade do valor (R$ 3 milhões) o que será suficiente para criar o prometido Centro de Imagens e Diagnósticos do HRC.

Com esse benefício no curto prazo já será possível atender a demanda represada de aproximadamente 3 mil pessoas que aguardam por uma ressonância magnética pelo SUS (Sistema Único de Saúde), e agora poderão contar com esse procedimento no local. A chegada deste recurso é, sem sombra de dúvidas, motivo de comemoração, mas deve também ser enxergada com cautela, sobretudo porque estamos em um período de campanha, no qual o recebimento de benefícios acaba facilitado como uma manobra de marketing eleitoral. É o velho “toma lá, dá cá”, intrincado no sistema e na forma como as pessoas enxergam gestão pública.

Felizmente, é possível transformar significativamente essa realidade em nada menos do que 16 dias. O pleito do dia 7 de outubro é um potencial para a escolha de novos candidatos que se oponham ao uso do poder concedido por meio de um cargo público para interesses pessoais e escusos, transformando o congresso em um verdadeiro balcão de negócios. Existe um discurso que sempre ecoa neste período sazonal a respeito de um “voto útil” obrigatório. Como se fosse necessário votar apenas em candidatos com significativo potencial para serem eleitos, medidos por meio de pesquisas de opinião ou estimativas com base no tamanho de seus partidos.

Com isso, se exclui a prerrogativa da cidadania, na qual o eleitor pode usar seu voto como instrumento de escolha de um projeto de país, efetivamente. Nesse contexto, o voto em um candidato de menor força política é tido como um “desperdício” e, com isso, a visão de sociedade e os ideais simbólicos que ele representa também acabam sufocados. O resultado dessa situação é um cenário de pasteurização programática, no qual as mesmas candidaturas de sempre, dos partidos mais estabelecidos e imbuídos nesse sistema putrefato, acabam “vingando”. Não há espaço para novas ideias, novas propostas e reformas estruturais.

Uma real transformação da realidade só ocorrerá quando o eleitor escolher um postulante que realmente represente suas propostas e posições – pelo menos na maioria delas, e nas mais essenciais e prioritárias. O conceito de “voto útil” precisa ser desmistificado para que haja espaço para um franco debate de ideias, diminuindo o poder do personalismo que anda tão presente na campanha eleitoral deste ano.

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