Política

Celso de Mello diz que Judiciário independente rejeita tentativas de violar separação de Poderes

  • 26/05/2020 16:46
  • MATHEUS TEIXEIRA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Sem citar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ministro Celso de Mello rebateu ataques do chefe do Executivo, que insinuou que o magistrado cometeu abuso de autoridade ao levantar o sigilo do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril. Durante sessão da Segunda Turma do STF na tarde desta terça-feira (26), o decano da corte afirmou que "sem um Judiciário independente não haverá liberdade nem democracia". "Entendo que, sem um Poder Judiciário independente que repele injunções marginais e ofensivas ao postulado da separação dos Poderes e que buscam muitas vezes ilegitimamente controlar a atuação dos juízes e dos tribunais, jamais haverá cidadãos livres nem regime político fiel aos princípios e valores que consagram o primado da democracia", afirmou. Presidente do colegiado, a ministra Cármen Lúcia também fez um discurso em defesa do Supremo. Sem citar o presidente nem o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que disse que, por ele, prenderia todo mundo, "a começar pelo STF", a magistrada disse que "agressões eventuais a juízes não enfraquecem" o tribunal. "Os ministros honram a história dessa instituição e comprometem-se com todos os cidadãos e com todas as instituições e com o futuro da democracia brasileira", disse ela. Cármen Lúcia também enfatizou que todos os cidadãos devem respeito às leis. "Todas as pessoas submetem-se à Constituição e à lei no Estado democrático de Direito. Juiz não cria lei, juiz limita-se a aplicá-la. Não se age porque quer, atua-se quando é acionado, nós juízes não podemos deixar de atuar. Porque sem o Poder Judiciário, não há o império da lei, mas a lei do mais forte", disse. "Dever não se descumpre e compromisso não se desonra. O Brasil tem direito à democracia e à Justiça, e este Supremo Tribunal Federal nunca lhe faltou e não lhe faltará", acrescentou a ministra. O ministro Ricardo Lewandowski foi na mesma linha e disse que o Judiciário "não se curva a nenhuma pressão externa". As declarações contundentes reforçam a aposta dos próprios ministros, de procuradores da República e de advogados de que é quase nula a chance de Celso de Mello ceder à ofensiva do Palácio do Planalto no inquérito que apura se Bolsonaro tentou violar a autonomia da Polícia Federal. A avaliação é que, dos 11 integrantes da corte, o decano seja, talvez, o menos suscetível a pressão, seja do meio político, seja da opinião pública. Tanto o histórico do magistrado mais antigo do tribunal quanto as decisões proferidas no inquérito que investiga as acusações do ex-ministro Sergio Moro contra o chefe do Executivo reforçam a tese de atores do Judiciário sobre o comportamento do decano. Um indício disso veio nesta semana. No domingo (24), dois dias após a divulgação do vídeo da reunião citada por Moro em depoimento à PF, em uma crítica indireta à decisão, Bolsonaro publicou nas redes sociais uma foto com o seguinte trecho da Lei de Abuso de Autoridade: "Art. 28 Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investiga ou acusado: pena - detenção de 1 (um) a 4 (quatro) anos". Nesta segunda-feira (25), o ministro rejeitou o pedido do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, para acompanhar o depoimento do empresário Paulo Marinho. Em entrevista à Folha de S.Paulo, Marinho, suplente do senador, revelou que ouviu de Flávio que um delegado da PF havia antecipado, em outubro de 2018, que seria realizada a Operação Furna da Onça, até então sob sigilo. Essa operação, segundo o relato de Marinho, teria sido "segurada" para que não atrapalhasse Bolsonaro na disputa eleitoral. Flávio teria sido avisado entre o primeiro e o segundo turnos por um delegado simpatizante da candidatura de Bolsonaro à Presidência. Os desdobramentos da operação revelaram um suposto esquema de "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio e atingiram Fabrício Queiroz, policial militar aposentado amigo de Jair Bolsonaro e ex-assessor de Flávio na Assembleia do Rio.