"Após 10 anos, a gente se acostuma ao sol quente daqui"

Há 10 anos, o anastaciano Flávio Roberto da Cunha, 45 anos, deixa diariamente, às 5h20, a cidade em que vive com a família, para vir à capital regional, onde exerce a atividade de gari até 17h

PRUDENTE - ANDRÉ ESTEVES

Data 14/09/2017
Horário 12:37

Acompanhados na maior parte do tempo pelo sol quente e as altas temperaturas, os garis são figuras fundamentais para a manutenção de uma cidade. São eles que deixam as ruas limpas e livres do mau cheiro, contribuindo para a preservação dos espaços urbanos. A vassoura e a pá são os principais instrumentos de um trabalho pouco reconhecido. Ainda que o uniforme de cor laranja seja chamativo, os varredores de rua, muitas vezes, ainda passam despercebidos pela comunidade. Há 10 anos, o anastaciano Flávio Roberto da Cunha, 45 anos, deixa diariamente, às 5h20, a cidade em que vive com a família, para vir a Presidente Prudente, onde exerce a atividade até 17h. Depois de uma década dedicado ao serviço, pode-se dizer que o município centenário se tornou a sua segunda casa.

Nas segundas e terças-feiras, o funcionário fica encarregado de varrer a Vila Comercial, enquanto às quartas faz a limpeza do Parque Residencial Nozaki e do Jardim Satélite, nos quais recebe a ajuda de uma colega de trabalho. Nos demais dias, ele fica à disposição da Prudenco (Companhia Prudentina de Desenvolvimento). Questionado sobre os principais desafios que permeiam a atividade, Flávio hesita ao responder. Depois de tanto tempo, as adversidades parecem ter sido todas superadas. Até mesmo o sol quente deixou de ser um empecilho; virou companheiro. “A gente se acostuma ao sol quente. Como eu já trabalhei na roça, esse é um serviço normal para mim”, relata.

Apesar de estar habituado ao sol, isso não quer dizer que o varredor não seja cauteloso em seu cotidiano. Além do tecido do seu uniforme o proteger contra os raios solares, ele carrega consigo uma garrafa de água e faz uso do protetor solar. Durante a conversa, tira o chapéu da cabeça para mostrar o lenço anexo. Embora sua profissão ainda seja invisibilizada, ele afirma que há aqueles moradores que se preocupam com o seu bem-estar e oferecem um copo de água e até mesmo uma xícara de café.

Flávio não reclama do que faz e pondera que todas as atividades têm seus altos e baixos. “Se você ficar sentado o dia todo, isso também não vai ser bom. Não existe serviço perfeito”, comenta. Para ele, os anos como gari são mais favoráveis do que os dias que passou trabalhando com sementes forrageiras na roça, já que agora possui mais garantias e segurança. “Em 10 anos que estou aqui, nunca tive um atraso de salário ou tíquete”, ressalta. Quantos aos sonhos, o funcionário não nutre grandes ambições. Sua aspiração é modesta: “A gente sempre tem sonhos, mas acho que o principal é continuar trabalhando”, pontua.

 

FLÁVIO ROBERTO DA CUNHA

Idade: 45 anos

Cidade: Santo Anastácio

Profissão: Varredor de rua

Sonho: Continuar trabalhando

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