“Olha profe: meu cabelim está crescendo!”

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 01/02/2022
Horário 06:00

Pois é, Jana, estava sim. Seu “cabelim”, como gostava de dizer, estava indo bem. Assim como todos nós e não parece que há pouco mais de uma semana estávamos trocando sorrisos e histórias no fundo de sua casa e hoje convivemos com a dor da sua despedida. 
E que dor é essa, Jana? Que dor é essa que a gente está sentindo e não sabe de onde vem? Que doença é essa que não nos deu uma mísera chance? Em menos de um ano venceu a todos nós, homens e mulheres com fé. Nem o tal do dinheiro resolveu. Esta maldita doença não está nem aí com o que você tem e nem com quem você é.
Mas isto agora é bobagem pensar. Não há solução ou resposta para nenhuma destas colocações, a não ser os mistérios e a sabedoria de Deus.
O que quero ter para sempre comigo, Jana, é o que você nos ensinou. 
Era muito lindo ver o quanto você respeitava seus pais e amava sua irmã mais nova. Você sabia – e foi assim – que no final a família é que estaria ao seu lado. Por família, coloco também alguns “amigos agregados”. Aprendi demais com este amor e um dia irei contar aos meus filhos o seu exemplo de vida.
Assim como também aprendi muito contigo na faculdade. E olha que eu era seu professor, hein? Mas você deu aula mesmo para todos nós. 
Sempre ali, disposta e pronta a aprender. Queria absorver tudo! Quando chegava o final de aula, lá estava você com suas dúvidas, sua vontade de saber mais. Adorava quando você me chamava de “profe”, com “e” no final. Sempre gostei.
“Profe, esse lead vai convencer as pessoas?”; “Profe, é que eu preciso saber se meu texto está bom...”. Estava sim, Jana. Sempre esteve.
Aliás, esteve pronta para aprender mesmo quando não estava a fim. Teve uma época em que você ficou meio desanimada da vida. Caiu mesmo e nós professores temos um bom radar para saber quem está bem e quem não está. Temos a consciência de que um bom aluno não começa a cometer erros à toa. 
E daí, conseguimos um estágio na Missão Mariana Braga. Era o melhor lugar para você estar. Muito amor e muito aprendizado. E olha que quando eu ofereci, você até recusou a vaga. Mas eu não deixei quieto. “Janaína, não estou te sugerindo um estágio. É uma ordem. Você vai mesmo porque sua vida vai mudar!”. E foi. E mudou a vida de todos a sua volta. Até hoje é e sempre será lembrada. Ali foi o começo de uma vida profissional maravilhosa.
Mas foi no amor, ou na necessidade de amar que você me mostrou a missão que tenho pela frente. Dizia o poeta que é “preciso amar como se não houvesse amanhã” e foi isso, né Jana? Aprendi em uma semana, míseros sete dias, que esta frase faz muito sentido. 
Você se foi em uma tarde de sábado. A mesma tarde que passamos juntos tantas vezes e eu vou lutar para pensar que este dia a partir de agora não seja de dor, mas de lembranças boas do quanto podemos amar uns aos outros, do quanto temos que viver em família e entre amigos.
Ali, no fundo improvisado de sua casa, na mesa de café com mais ou menos um pouquinho do que cada um trazia, nós sempre celebramos a vida. Sempre nos amamos em família.
Nestas tardes de sábado, Jana, nós vivemos felizes. Da mesma forma que você ainda vive em nossos corações e aí no céu. Tenho certeza, disso! Até um dia! Com carinho, profe. Mancuzo.
 

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