Preservar o meio ambiente é uma ação fomentada diariamente. Mas, hoje, por ser Dia da Árvore, o assunto vem à tona com mais força. Na região, alguns dados revelam que não há muito que comemorar. De acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica, dos 53 municípios que compõem a 10ª RA (Região Administrativa) do Estado de São Paulo, 46 possuem menos de 10% da mata atlântica original de cada cidade. Em parceria com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o levantamento divulgado na última semana, por meio de uma ferramenta do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, levou em conta os anos de 2015 e 2016. Juntas, as cidades do entorno detêm uma área de 156.087,10 hectares (ha).
Não é preciso entender do assunto para saber que a situação não é das melhores. Porém, para quem vive e trabalha com o meio, relata que o número é, de fato, preocupante. É o caso do ambientalista Djalma Weffort. Ele argumenta que tais dados impulsionam dois problemas. “De primeiro momento, a gente percebe um descompasso com a lei, uma vez que Código Florestal estabelece o mínimo de 20%. E, em seguida, constatamos uma insuficiência para dar sustentabilidade a essas matas”, completa. Djalma ressalta que, no caso, o cenário atual gera uma dificuldade de garantir a perpetuação da fauna e da flora para essa e futuras gerações.
Dentro do levantamento (veja a tabela), apenas uma cidade da 10ª RA agrega o percentual mencionado pelo Código Florestal, conforme citado pelo ambientalista. O município de Teodoro Sampaio – onde está localizado o Parque Estadual Morro do Diabo - ainda conta com 27,53% de sua mata original, o que representa a maior reserva da região, equivalente a 42.843,89 ha, seguido por Rosana e Pauliceia.
Ainda de acordo com Djalma, isso ajuda a explicar outro ponto fundamental, que é a necessidade de ter unidades de conservação como uma arma para a preservação. “Nessas três cidades citadas, nós possuímos as chamadas APP [áreas de preservação ambiental]. Temos que criar mais espaços como estes, de preferência, ao longo dos cursos dos rios e formando corredores ecológicos”, diz.
Além disso, o ambientalista cita outros métodos que podem impulsionar melhorias e reverter o cenário atual de degradação. Ele ressalta a necessidade de uma proteção maior da flora. “Somente a restauração florestal viabilizará a multiplicação desse número. É um processo contínuo. Nós passamos mais de 500 anos destruindo, então, agora temos que agir hoje, revertendo o cenário e cumprindo o necessário para isso”, expõe. Djalma também ressalta as alterações climáticas como uma das consequências pela falta de proteção florestal e, consequentemente, diminuição da mata.
Alternativa
No entanto, em meio à baixa de biomas e desmatamento, há quem nada contra a corrente. Criado há 25 anos, o IPÊ (Instituto de Pesquisa Ecológicas) desenvolve trabalho de pesquisas e projetos que estão atrelados à conservação da fauna e da flora. Na região, para ser mais preciso, o órgão possui atuação constante nos denominados corredores ecológicos, que foram criados para reflorestar áreas degradadas e conectar unidade de conservação.
O engenheiro florestal e coordenador de projetos e pesquisas do IPÊ, Laury Cullen, conta que nos últimos 20 anos em que a ação é desenvolvida, foram plantadas 4 milhões de árvores. O instituto tem sede em Teodoro Sampaio e atua no Pontal do Paranapanema. À reportagem, ele explica que este número corresponde a quase 2 mil hectares. “É válido lembrar que a comunidade ajuda, já que essas mudas são 100% originárias da região, dos viveiros comunitários que são compostos por assentados e fazendeiros. É de onde eles tiram a fonte de renda e ainda ajudam a natureza”, pontua.
Mas não para por aí. De acordo com Laury, ainda restam quase 70 mil hectares a serem reflorestados. No IPÊ, eles possuem o Mapa dos Sonhos, um sistema que é usado para definir áreas prioritárias para reconstrução dos corredores, priorizando onde realmente vale a pena ser replantado. “É um trabalho de formiguinha. Continuamos para manter o status que alcançamos, no qual hoje é considerado o maior corredor da mata atlântica”, expõe.
MATA ATLÂNTICA
Municípios | Área remanscente em hectares (ha) | Representação da mata original |
Adamantina | 1.442,48 | 3,51% |
Alfredo Marcondes | 398,97 | 3,37% |
Álvares Machado | 724,51 | 2,09% |
Anhumas | 445,06 | 1,39% |
Caiabu | 1.089,46 | 4,31% |
Caiuá | 3.335,37 | 6,07% |
Dracena | 3.511,89 | 7,20% |
Emilianópolis | 1055 | 4,70% |
Estrela do Norte | 1.220,79 | 4,63% |
Euclides da Cunha Paulista | 3.874,04 | 6,73% |
Flora Rica | 1.403,58 | 6,23% |
Flórida Paulista | 3.852,50 | 7,34% |
Iepê | 1.414,27 | 2,37% |
Indiana | 260,86 | 2,06% |
Inúbia Paulista | 583,32 | 6,67% |
Irapuru | 1.233,05 | 5,74% |
Junqueirópolis | 3.924,36 | 6,73% |
Lucélia | 783,36 | 2,49% |
Marabá Paulista | 3.147,92 | 3,43% |
Mariápolis | 594,70 | 3,20% |
Martinópolis | 1.918,91 | 1,53% |
Mirante do Paranapanema | 6.252,97 | 5,05% |
Monte Castelo | 3.037,46 | 13,06% |
Nantes | 366,26 | 1,28% |
Narandiba | 3.197,07 | 8,93% |
Nova Guataporanga | 62,87 | 1,84% |
Osvaldo Cruz | 846,83 | 3,41% |
Ouro Verde | 2.711,07 | 10,13% |
Pacaembu | 1.804,38 | 5,33% |
Panorama | 3.756,33 | 10,54% |
Pauliceia | 5.240,55 | 14,03% |
Piquerobi | 2.398,37 | 4,97% |
Pirapozinho | 2.314,37 | 4,84% |
Pracinha | 55,84 | 0,89% |
Presidente Bernardes | 5.455,02 | 7,28% |
Presidente Epitácio | 4.955,14 | 3,93% |
Presidente Prudente | 2.248,82 | 4,00% |
Presidente Venceslau | 4.277,36 | 5,65% |
Rancharia | 4.964,45 | 3,13% |
Regente Feijó | 341,24 | 1,29% |
Ribeirão dos Índios | 1.284,94 | 6,54% |
Rosana | 10.106,93 | 13,61% |
Sagres | 290,03 | 1,96% |
Salmourão | 2.096,88 | 12,17% |
Sandovalina | 2.742,59 | 6,03% |
Santa Mercedes | 289,47 | 1,73% |
Santo Anastácio | 2.626,83 | 4,75% |
Santo Expedito | 554,73 | 5,87% |
São João do Pau d'Alho | 498,55 | 4,24% |
Taciba | 1.185,22 | 1,95% |
Tarabai | 753,57 | 3,74% |
Teodoro Sampaio | 42.843,49 | 27,53% |
Tupi Paulista | 313,07 | 1,28% |
Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica