46 municípios têm menos de 10% de mata atlântica

Juntos, os 53 municípios detêm área de 156.087,10 hectares; Teodoro registra maior remanescente do bioma original

REGIÃO - THIAGO MORELLO

Data 21/09/2017
Horário 12:59

Preservar o meio ambiente é uma ação fomentada diariamente. Mas, hoje, por ser Dia da Árvore, o assunto vem à tona com mais força. Na região, alguns dados revelam que não há muito que comemorar. De acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica, dos 53 municípios que compõem a 10ª RA (Região Administrativa) do Estado de São Paulo, 46 possuem menos de 10% da mata atlântica original de cada cidade. Em parceria com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o levantamento divulgado na última semana, por meio de uma ferramenta do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, levou em conta os anos de 2015 e 2016. Juntas, as cidades do entorno detêm uma área de 156.087,10 hectares (ha).

Não é preciso entender do assunto para saber que a situação não é das melhores. Porém, para quem vive e trabalha com o meio, relata que o número é, de fato, preocupante. É o caso do ambientalista Djalma Weffort. Ele argumenta que tais dados impulsionam dois problemas. “De primeiro momento, a gente percebe um descompasso com a lei, uma vez que Código Florestal estabelece o mínimo de 20%. E, em seguida, constatamos uma insuficiência para dar sustentabilidade a essas matas”, completa. Djalma ressalta que, no caso, o cenário atual gera uma dificuldade de garantir a perpetuação da fauna e da flora para essa e futuras gerações.

Dentro do levantamento (veja a tabela), apenas uma cidade da 10ª RA agrega o percentual mencionado pelo Código Florestal, conforme citado pelo ambientalista. O município de Teodoro Sampaio – onde está localizado o Parque Estadual Morro do Diabo - ainda conta com 27,53% de sua mata original, o que representa a maior reserva da região, equivalente a 42.843,89 ha, seguido por Rosana e Pauliceia.

Ainda de acordo com Djalma, isso ajuda a explicar outro ponto fundamental, que é a necessidade de ter unidades de conservação como uma arma para a preservação. “Nessas três cidades citadas, nós possuímos as chamadas APP [áreas de preservação ambiental]. Temos que criar mais espaços como estes, de preferência, ao longo dos cursos dos rios e formando corredores ecológicos”, diz.

Além disso, o ambientalista cita outros métodos que podem impulsionar melhorias e reverter o cenário atual de degradação. Ele ressalta a necessidade de uma proteção maior da flora. “Somente a restauração florestal viabilizará a multiplicação desse número. É um processo contínuo. Nós passamos mais de 500 anos destruindo, então, agora temos que agir hoje, revertendo o cenário e cumprindo o necessário para isso”, expõe. Djalma também ressalta as alterações climáticas como uma das consequências pela falta de proteção florestal e, consequentemente, diminuição da mata.

 

Alternativa

No entanto, em meio à baixa de biomas e desmatamento, há quem nada contra a corrente. Criado há 25 anos, o IPÊ (Instituto de Pesquisa Ecológicas) desenvolve trabalho de pesquisas e projetos que estão atrelados à conservação da fauna e da flora. Na região, para ser mais preciso, o órgão possui atuação constante nos denominados corredores ecológicos, que foram criados para reflorestar áreas degradadas e conectar unidade de conservação.

O engenheiro florestal e coordenador de projetos e pesquisas do IPÊ, Laury Cullen, conta que nos últimos 20 anos em que a ação é desenvolvida, foram plantadas 4 milhões de árvores. O instituto tem sede em Teodoro Sampaio e atua no Pontal do Paranapanema. À reportagem, ele explica que este número corresponde a quase 2 mil hectares. “É válido lembrar que a comunidade ajuda, já que essas mudas são 100% originárias da região, dos viveiros comunitários que são compostos por assentados e fazendeiros. É de onde eles tiram a fonte de renda e ainda ajudam a natureza”, pontua.

Mas não para por aí. De acordo com Laury, ainda restam quase 70 mil hectares a serem reflorestados. No IPÊ, eles possuem o Mapa dos Sonhos, um sistema que é usado para definir áreas prioritárias para reconstrução dos corredores, priorizando onde realmente vale a pena ser replantado. “É um trabalho de formiguinha. Continuamos para manter o status que alcançamos, no qual hoje é considerado o maior corredor da mata atlântica”, expõe.


MATA ATLÂNTICA

Municípios Área remanscente em hectares (ha) Representação da mata original
Adamantina 1.442,48 3,51%
Alfredo Marcondes 398,97 3,37%
Álvares Machado 724,51 2,09%
Anhumas 445,06 1,39%
Caiabu 1.089,46 4,31%
Caiuá 3.335,37 6,07%
Dracena 3.511,89 7,20%
Emilianópolis 1055 4,70%
Estrela do Norte 1.220,79 4,63%
Euclides da Cunha Paulista 3.874,04 6,73%
Flora Rica 1.403,58 6,23%
Flórida Paulista 3.852,50 7,34%
Iepê 1.414,27 2,37%
Indiana 260,86 2,06%
Inúbia Paulista 583,32 6,67%
Irapuru 1.233,05 5,74%
Junqueirópolis 3.924,36 6,73%
Lucélia 783,36 2,49%
Marabá Paulista 3.147,92 3,43%
Mariápolis 594,70 3,20%
Martinópolis 1.918,91 1,53%
Mirante do Paranapanema 6.252,97 5,05%
Monte Castelo 3.037,46 13,06%
Nantes 366,26 1,28%
Narandiba 3.197,07 8,93%
Nova Guataporanga 62,87 1,84%
Osvaldo Cruz 846,83 3,41%
Ouro Verde 2.711,07 10,13%
Pacaembu 1.804,38 5,33%
Panorama 3.756,33 10,54%
Pauliceia 5.240,55 14,03%
Piquerobi 2.398,37 4,97%
Pirapozinho 2.314,37 4,84%
Pracinha 55,84 0,89%
Presidente Bernardes 5.455,02 7,28%
Presidente Epitácio 4.955,14 3,93%
Presidente Prudente 2.248,82 4,00%
Presidente Venceslau 4.277,36 5,65%
Rancharia 4.964,45 3,13%
Regente Feijó 341,24 1,29%
Ribeirão dos Índios 1.284,94 6,54%
Rosana 10.106,93 13,61%
Sagres 290,03 1,96%
Salmourão 2.096,88 12,17%
Sandovalina 2.742,59 6,03%
Santa Mercedes 289,47 1,73%
Santo Anastácio 2.626,83 4,75%
Santo Expedito 554,73 5,87%
São João do Pau d'Alho 498,55 4,24%
Taciba 1.185,22 1,95%
Tarabai 753,57 3,74%
Teodoro Sampaio 42.843,49 27,53%
Tupi Paulista 313,07 1,28%

Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica 

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