Dos 53 prefeitos que administram os municípios da 10ª RA (Região Administrativa) do Estado de São Paulo, além de Quatá, onde circula O Imparcial, 38 podem se candidatar à reeleição nas próximas eleições municipais, em outubro deste ano. Número que corresponde a 70,3% do total de 54 prefeitos. Os dados foram obtidos por meio de um levantamento feito pela reportagem junto às prefeituras da região e se referem aos chefes do Executivo que se elegeram para seu primeiro mandato no pleito de 2012. Para especialista, independentemente da alternância ou manutenção do poder, a carência dos municípios está ligada à ausência de projetos efetivos de cidade pensados em longo prazo por toda sociedade civil, e não a personagens políticos.
Os números obtidos junto aos 54 municípios da região não fogem muito à regra nacional. Isso porque, em pesquisa divulgada recentemente, a CNM (Confederação Nacional de Municípios) apontou que 76,4% dos prefeitos dos 5.568 municípios brasileiros poderão se candidatar novamente à cadeira que ocupam desde 2012. O estudo foi produzido pela área de Estudos Especiais da entidade, com o objetivo de conhecer o cenário de reeleições no Brasil, haja vista que, conforme a CNM, "estas serão as últimas eleições com reeleição para os cargos de prefeitos e vice-prefeitos".
No cenário político regional, 38 dos 54 chefes dos Executivos municipais estão aptos para concorrer à reeleição, uma vez que estão exercendo seu primeiro mandato na atual administração. Sendo assim, 16 gestores públicos da região não poderão disputar a principal cadeira do Executivo de seus respectivos municípios em 2016, visto que atualmente exercem o segundo mandato consecutivo. Vale ressaltar, que o levantamento não leva em conta eventuais processos que, posteriormente, possam culminar na inelegibilidade de qualquer um dos citados.
Em Presidente Prudente, por exemplo, o atual prefeito Milton Carlos de Mello, Tupã (PTB), não poderá se candidatar ao cargo no pleito deste ano, dado que já exerceu seu direito à reeleição. Mesma situação dos administradores de Alfredo Marcondes, Anhumas, Caiuá, Flora Rica, Inúbia Paulista, Mariápolis, Monte Castelo, Nantes, Narandiba, Ouro Verde, Pracinha, Salmourão, Sandovalina, Santa Mercedes e Tupi Paulista.
Projeto de cidade
Pessoalmente contrário ao processo de reeleição, o economista, sociólogo e mestre em ciências sociais, Wilson de Luces Fortes Machado, crítica ferrenhamente o sistema político brasileiro que, de acordo com ele, se baseia sumariamente ao personagem, em detrimento do projeto. "No processo eleitoral brasileiro, a gente trabalha com personagens e não com projetos. A figura do prefeito se sobressai ao próprio projeto do candidato. Troca-se o prefeito e aquilo que foi conquistado anteriormente é praticamente descartado, em troca de um novo plano ou projeto. Desta maneira, os municípios ficam estagnados", analisa o especialista.
O ideal, segundo diagnóstico do mestre, seria a própria sociedade civil se movimentar para eleger um projeto de cidade, para posteriormente escolher o representante que deverá colocar em prática tais planejamentos. "Se houvesse um planejamento em longo prazo, do qual os municípios tivessem instâncias gerais, com a participação da sociedade civil, seria indiferente o ocupante do cargo, pois o mesmo estaria vinculado ao projeto de cidade predefinido pela população", pontua. "No mais, estaria a cargo da capacidade de gestão do eleito. Do jeito que é feito, estamos reféns das ações limitadas, imediatas e diretas dos administradores", considera.
Modelo que, conforme o especialista, existe em alguns países da Europa e em algumas economias asiáticas. Planejamento que, para ele, deveria ser aplicado nas esferas municipal, estadual e federal no Brasil, para que, de fato, os governantes possam ser "considerados como representantes legais do povo". "Seria bom se estivéssemos falando de um projeto já conhecido de planejamento estratégico. Sendo assim, a troca poderia ser boa, se priorizasse o planejamento. Da mesma maneira que a alternância, sem projeto, é tão vazia quanto a continuidade", ressalta o especialista.