A força da natureza

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 31/05/2020
Horário 04:24

Há quem diga que a pandemia da Covid-19 será o evento que demarcará o fim do longo século XX e que após o tsunami do novo coronavirus dar-se-á início ao século XXI. Essas demarcações não obedecem obviamente o tempo do relógio, mas considera eventos relevantes como os estragos recentes no campo político, econômico e ambiental. Claro que toda periodização histórica é objeto de polêmicas, o que não é o caso aqui. Eu gostaria de destacar uma questão que salta aos olhos: a força da natureza!

A paralisação de inúmeras atividades econômicas na escala global deu visibilidade a cenas já esquecidas pelos mais velhos e até mesmo desconhecidas dos mais jovens. Com a redução drástica de emissão de gases tóxicos, rapidamente se dissiparam os poluentes da atmosfera. Assim, os habitantes das grandes cidades puderam apreciar a beleza do céu azul. O mesmo ocorreu com os rios, rapidamente repovoados por cardumes de peixes passíveis de serem observados pelas águas mais transparentes. Ao mesmo tempo, o silêncio humano despertou a curiosidade dos animais silvestres, que se sentiram encorajados em visitar as cidades. As pessoas enclausuradas em suas casas assistiram pelas janelas um curioso desfile de macacos, carnívoros, rebanhos de herbívoros por diversas cidades mundo afora.... é incrível a capacidade de regeneração da natureza.

É razoável supor que a Terra sempre esteve em transformação. Mas essa é uma história que não se resume a um único fenômeno, mas à associação de muitos deles. As primeiras formas de vida apareceram no planeta milhões de anos depois da formação dos oceanos e da atmosfera. Na “sopa” oceânica escaldante, moléculas misturaram-se e reagiram de modo a formar diversos compostos, até que de um deles surgiu o primeiro ser vivo. E os seres vivos passaram a exercer papel fundamental na manutenção das condições ambientais do planeta. Seria impossível retirar da atmosfera o excesso de dióxido de carbono lançado pelos vulcões se não existisse os plânctons - que povoam os oceanos há bilhões de anos. A concentração desse gás iria aumentar muito. E, como o gás carbônico retém calor, a temperatura da Terra se elevaria acima de 100 graus Celsius!

Pensei em todas essas relações quando parei diante de uma situação muito curiosa. Como minúsculos agentes infecciosos do tamanho de 50 a 200 nanômetros de diâmetro - chamados de vírus Sars-CoV2, colocaram de joelhos todo o sistema mundial? Qual é o lugar da natureza humana na ordem dessas coisas? A força de transformação da natureza humana é outra história que merece ser contada numa próxima conversa.

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