A minha biblioteca imaginária

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 07/06/2020
Horário 04:13

Dos diversos instrumentos do homem, o mais surpreendente é, sem dúvida, o livro. Os demais são extensões do seu corpo. O microscópio, o telescópio, são extensões da visão; o telefone, da voz; o arado e a espada, extensões do braço. Mas o livro é outra coisa: é uma extensão da memória e da imaginação. (tradução livre)
Jorge Luis Borges

 Essa é a terceira semana que tenho a oportunidade de escrever um pequeno texto de situações cotidianas para compartilhar aqui com você. Creio que o que nos une é a atração que temos por um objeto quase perfeito: o texto escrito. Claro que o objeto em questão é apenas uma crônica, nada comparável com as obras romanescas do grande escritor argentino citado na epígrafe. Mas a capacidade de aguçar nossa memória e imaginação pode ser o traço comum de qualquer texto escrito, não importa o tamanho, complexidade e originalidade. Ou a leitura serve para mudar nosso modo de olhar para o mundo ou não serve para nada. Enfim, poder escrever esse texto é uma oportunidade para pensar nos sentidos da vida.

No último dia 4 de junho, o Brasil completou 100 dias de enfrentamento do novo coronavírus. A exigência do isolamento social me fez pensar nos livros de ficção que já li, especialmente aqueles que foram mais impactantes no aprendizado diante do vazio da morte. Daí eu coloquei três livros principais nesta minha biblioteca imaginária: 1- “O amor nos tempos do cólera”, do escritor colombiano Gabriel García Márquez; 2- “A montanha mágica”, do escritor alemão Thomas Mann; e, 3- “Memórias póstumas de Brás Cubas”, do escritor brasileiro Machado de Assis.

Nestes tempos sombrios, creio que estas obras romanescas guardam diversos pontos em comum, além do poder fascinante que elas exerceram sobre o meu prazer pela ficção. Da primeira obra eu fiquei pensando na força das relações humanas e na capacidade de saber esperar longo tempo, assim como nas escolhas que fazemos em nossas vidas. “A montanha de Thomas Man”, por sua vez, foi sem dúvidas um dos clássicos mais fascinantes. Até hoje me vejo percorrendo as ruas de Davos, observando com sarcasmo o modo como aqueles que podem usufruir de todos os luxos possíveis combinam a saúde e o mercado. E eu não poderia deixar de colocar nesta biblioteca imaginária a genialidade machadiana de contar sua história do ponto de vista do “defunto autor”, livre das amarras da vida.

Qual seria a sua biblioteca imaginária nestes “tempos de cólera”? Como você, leitor, estabelece relação com os livros? Engana-se quem pensa que eles podem ser substituídos pelas redes sociais. Elas vieram para complementar nossa relação com o mundo, mas jamais subjugarão o poder transformador da arte da ficção.

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