Tive que ir ao dentista restaurar uma obturação. Efeito da dita "melhor idade". Quando sentei na "cadeira cama", a doutora começa a lendária anamnese. A origem dessa esquisita palavra vem do grego: Ana significa trazer de novo e "mnesis” a memória. A anamnesis tradicional consiste em sete perguntas básicas. Se quiserem mais detalhes, peço a gentileza de procurarem no Google.
Começam as perguntas: Você toma algum remédio? Tomo vários. Quais? Comecei a mencionar os remédios. Torci para que a minha frágil memória não me deixasse passar vergonha. No 20º remédio, tentei fazer uma gracinha para relaxar dizendo: Tem um que adoro de nome, "Bissulfato de Clopidogrel". Pronto. Só foi mencionar esse remédio que a doutora falou com um tom de espanto: Você é um cardiopata ou teve algum AVC?
Seria mais charmoso me chamar de coronariano, iria me sentir um extraterrestre raríssimo. Também não seria de todo mal me chamar de revascularizado, acharia mais emblemático. Respondi todas as perguntas tentando demonstrar bom humor e sempre em tom de brincadeira, para não começar o sentimento de dó. Mas não adiantou, afinal era uma mulher. Imediatamente mostra uma preocupação de mãe, quando começa o tratamento: Olha você tem que tomar muito cuidado com sua saúde bucal. Puxa vida, será que estou com mal hálito? Só faltava essa.
Ah é doutora, por quê? Notei que quando passei o fio dental sua gengiva sangrou. Lógico que sangrou, parecia um serrote a maneira que ela passou o fio dental. Ela continuou: Olha, se sangrou é porque sua gengiva está inflamada. Se estiver inflamada, você pode pegar uma endocardite e pode ter sérias complicações de saúde podendo até morrer. Puxa vida, que pessimismo, ela é uma dentista ou um agente funerário?
Saí de lá tenso, pior que um jogo entre o Todo Poderoso e o Palmeiras numa final de um campeonato nacional. Como tenho um coração corintiano não me deixei abater. Pensei resignado e mudo: Triste sina de um cardiopata. Vejam vocês!