Algumas quedas te fazem voar

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 15/02/2022
Horário 06:00

Quando a vida te dá um tombo, há três estágios: cair, permanecer e voar.
E eles não são tão óbvios como parecem ser, mas a sequência é exata.
A queda é quase inevitável, em especial quando não se espera. Um coração ofendido te leva aperceber que o poço não tem bem um “fundo”, mas vários estágios de fundo.
Porque os corações não são ofendidos por um fator apenas. Sofrem com abandonos, “disse que disse”, traições, pessoas que deveriam estar perto, mas somem na hora em que mais se precisa, dificuldades financeiras, traumas e por aí vai. E quando você acha que acabou, vem um acontecimento e te leva mais para baixo.
E não bastasse tudo isso, a pessoa ainda passa a ser alvo de muitos julgamentos. Histórias que surgem e se alimentam pela raiva, pela dor ou pela mera necessidade humana de receber e oferecer boatos.
Mas um dia, você acorda diferente. 
De repente aquela sensação de que o mundo não faz mais sentido começa a desaparecer e o movimento de queda para também. É estranho, mas acontece. 
Só que parar de cair não significa que está tudo bem, porque se você caiu, agora precisa o quê? Subir, claro!
E do mesmo jeito que ninguém está preparado para despencar, também terá dificuldades para crescer, porque, primeiro, muitas vezes rola uma estranha zona de conforto aí. Acontece que já se sofreu tanto que o simples fato de estar parado já é suficiente. “Ah, sei lá, tá bom aqui, vai...” É a frase comum nestas horas.  
Mas se a opção é subir, isso implica um movimento muito intenso. Pra baixo todo santo ajuda, mas para cima...
E se fosse apenas uma questão física, tudo bem, mas não é, né? O movimento de subida implica trabalhar verbos que são bem caros como perdoar, relevar, aceitar, superar, reagir, crescer...
As águias, e várias outras espécies de pássaros, possuem um expediente bem simples para fazer seus filhotes aprenderem a voar quando percebem que já estão prontos: simplesmente os jogam do ninho. Bater as asas, dar 100% de esforço e determinação, são as diferenças entre morrer e viver. 
E de repente, você está assim como eu, que fui jogado do ninho e precisei de muito esforço para não me esborrachar no chão. Voar neste momento significou não só sobreviver, mas uma outra forma de encarar a vida, bem mais leve, racional e dando aos problemas o seu tamanho exato.
Onde este voo vai me levar não sei, mas estar vivo e disposto é o que se espera de qualquer pessoa que nasceu para ser feliz. 
 

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