Angústia, depressão

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 01/10/2019
Horário 04:05

O mundo ocidental contemporâneo é movido pela busca da suposta “felicidade plena”. O sucesso profissional, um corpo perfeito pelos padrões de beleza, viagens a lugares paradisíacos, a casa dos sonhos, o status, são manipulações do sistema para gerar lucro, mas podem conduzir a quadros de angústia e depressivos. Virou, talvez, uma competição o correr atrás do que todo mundo corre. Mas, leitor, até onde essas necessidades são verdadeiramente nossas ou condicionamentos dos quais nem temos, às vezes, consciência?   

As falsas necessidades “vendidas pela mídia” constituem armadilhas e apoderam-se “de presas” fazendo-as sofrer. A vida humana é permeada de bons e maus momentos, do ganhar e do perder, da alegria e da tristeza, porque fazem parte da condição humana. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), aproximadamente 350 milhões de pessoas sofrem de depressão. No Brasil, de acordo com um levantamento da Universidade Federal de São Paulo, um terço da população apresenta sintoma depressivo. O ser humano é um contínuo “vir a ser”, que exige mudança e mudar é difícil; às vezes, doloroso, mas como disse o grande Rubem Alves: Ostra feliz não faz pérolas.

O frenesi da felicidade plena não existiu sempre, pelo contrário, é relativamente recente na história ocidental. Disse o pensador B. Brandão: “Não existe felicidade plena, assim como não existe verdade absoluta, ambas pela mesma razão: a evolução do ser”. O filósofo grego Aristóteles dizia que a “bílis negra” determina os grandes homens. A reflexão aristotélica é que a melancolia não seria uma doença, mas a própria natureza do filósofo. Ela seria uma maneira importante de transcender e gerar sabedoria. 

Segundo Bauman, o aumento da angústia e depressão é fruto da falta de solidez dos valores humanos - as relações são cada vez mais descartáveis. Sejamos senhor e não escravos dos nossos pensamentos, porque estes geram sentimentos que podem conduzir ao equilíbrio, à tristeza, ou à violência. Portanto, é a nossa vida psíquica que determina nossas ações e o meio em que vivemos. Como disse o papa João Paulo I: “A paz exige somente quatro condições: verdade, justiça, amor e liberdade”.

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