“Palavras são erros, e os erros são seus, não quero lembrar que eu erro também.” Nesta belíssima canção intitulada “Eu Sei”, o poeta Renato Russo fala sobre a relação conturbada entre promessas, mentiras, palavras e pessoas.
Finda-se o ano, é tempo de lembranças, histórias e promessas, sim. É tempo de deixar as emoções florescerem: sorrir com quem se ama, chorar por quem se foi.
Obviamente, com o seu findar, o ano espera ter acrescentado experiência aos que o venceram. Oferece o prêmio da maturidade aos que por ele caminharam.
Não foi um ano tranquilo. De fato, ainda a crise, a dúvida, o medo, querem roubar o fôlego de todos. Mas, ao mesmo tempo, o oxigênio da esperança traz a inspiração de dias melhores, um novo ano se aproxima.
O que fazer, então, entre paradoxos e novos paradigmas que se apresentam?
Como sempre, ser humano é o melhor que pode fazer o ser-humano.
Por que não fazer promessas?
Que se quebrem apenas aquelas que farão rir! Que as academias de ginástica estejam abertas, para que se possa quebrar a promessa de frequentá-las diariamente. Que os doces nas padarias estejam deliciosos e irresistíveis, para que se possa quebrar a promessa de não os comer.
Mas, por Deus, que as academias e as padarias estejam abertas para que se possa prometer e não cumprir!
Que não se quebrem as promessas que podem fazer chorar! Amar é promessa que não se pode quebrar. Cuidar é promessa que se deve cumprir. Proteger é promessa necessária, irrenunciável.
E, por Deus, que tenhamos pessoas para amar, proteger e cuidar!
Promessa que não se faz é promessa que anula o humano. Voltando à letra da canção de Renato Russo, ninguém pode prometer não errar, pois errar é humano. Aqui surge uma virtude, que é promessa, mas divina: perdoar.
Neste findar, depois de praticamente dois anos de distanciamento social, tem-se a convicção de quem a ausência é sentida. Porém, um desafio nobre e sublime, que de maneira divina pode tomar forma de promessa, apresenta-se: perdoar aquele cuja ausência não foi sentida afetuosamente, mas com tristeza.
Que seja uma promessa silenciosa, interna, mas confiante e verdadeira. A pandemia mostrou que não há tempo a perder, que o outro está sempre por um triz, que o “eu” está sempre sob suspeita.
Que promessa mais imaculada poderia ser feita, ao começar o novo ano, do que a de perdoar o semelhante?
Prometer perdoar é prometer exercer amor profundo, como diz São Pedro: “antes de tudo, exercei profundo amor fraternal uns para com os outros, porquanto o amor cobre uma multidão de pecados.” (1 Pedro 4.8)
Fraternidade e bondade devem sempre estar entre as prioridades. Como se poderia pensar em um novo início desprezando tais virtudes essenciais? Como seria possível uma nova história sem perdão e novas oportunidades?
Aproxima-se o novo ano, importa ser humano. É comum errar, que seja comum também perdoar.
Um 2022 de recomeços, paz e alegria! Tudo isto o perdão traz.