Cadê o aplauso?

Sandro Villar

O Espadachim, um cronista SRD (Sem Raça Definida)

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 09/09/2021
Horário 05:30

Esta quem conta é o Rolando Boldrin, que dispensa apresentações. Era uma vez (não era assim que começavam as histórias?), um cantor muito famoso em todo o Brasil. Fazia enorme sucesso em todas as regiões, principalmente no Nordeste.
Vai daí que um coronel nordestino, de olho nas eleições (queria ser deputado federal), convidou o cantor para fazer um show na cidade do político no agreste pernambucano.
A notícia alegrou a população, principalmente as moças, moçoilas e mocinhas em geral, e confesso que adorei essa palavra moçoilas não citada pelo Boldrin em seu causo que, com licença dele,  irresponsavelmente transformo em crônica.
Mas, dizíamos, não se falava em outra coisa na cidadezinha e nas redondezas (quase que escrevo quadrandezas). Afinal, era um cantor popular, versátil, que cantava quase todo tipo de música, ou seja, mandava ver em vários ritmos, incluindo, claro, forró, baião, xaxado etc e tal.
Todos aguardavam ansiosos o dia da apresentação do artista popstar num sábado à noite. Seus discos vendiam mais que carne para churrasco nos fins de semana.
E chegou o grande dia. O coronel foi com seu jipão importado buscar o cantor no aeroporto e, como não poderia ser diferente, milhares de fãs (o Boldrin não precisou quantos) também prestigiaram o artista com uma carreata.
Talvez por causa de sua origem humilde, o cantor exigiu pouca coisa no camarim. Pediu apenas toalhas, para enxugar o suor causado pelo calorão senegalesco, algumas garrafas de água mineral e uma jarra com água de coco.
E aí começou o show ao ar livre. O coronel, de olho nos votos, sentou-se numa enorme cadeira de madeira praticamente ao lado do cantor no palco. Tinha uma visão privilegiada do público presente, calculado em mais de 5 mil votos, quer dizer, mais de 5 mil pessoas na principal praça da cidade.
Como tinha acabado de gravar um DVD, o cantor aproveitou para mostrar as novas músicas ao respeitável público. Cantou a primeira música e neca de aplauso, ou seja, ninguém bateu palmas pra valer e sequer se ouviram gritinhos de fãs mais exaltados, comuns nos shows musicais.
Meio cabreiro, interpretou a segunda canção e nova decepção. Nada de aplauso caloroso. Aí ele emendou a terceira canção, depois a quarta, em seguida a quinta música e nada do público se manifestar por meio das palmas que os artistas gostam tanto.
Encurtando esse papo: o cantor interpretou mais de dez canções e não foi aplaudido nenhuma vez, a não ser com tímidas palmas de meia dúzia de gatos pingados. O que deu errado? "Bem que eu te aconselhei a cantar primeiro as músicas mais conhecidas", ponderou o empresário do artista.
Evidente que a falta de aplausos mais calorosos "encafifou" o coronel. "Que diabo está acontecendo?", perguntou a um puxa-saco. Este sugeriu que o patrão tomasse uma providência.
Depois de cantar todo o repertório do novo DVD, o cantor apresentou um antigo sucesso seu no melhor estilo música de cormo. A letra lembrava uma novela mexicana. Inconformado, o sujeito mata a mulher, aquela ingrata que o deixou por outro, e vai em cana.
E não é que também desta vez as palmas foram mixurucas? Foi demais para o coronel, que pagou uma grana preta e de outras cores pro artista. Ele se levantou da cadeira, chegou perto do cantor e, levantando o braço do artista, falou alto e bom som: "Matou, fez muito bem, vamos aplaudir o moço".  O cantor ouviu tantas palmas que ficou surdo, mas a surdez o Boldrin não confirma.  

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