O ciúme é diferente de inveja, considerando a inveja como sendo a mais primitiva. O ciúme baseia-se no amor e visa à posse do objeto amado e à remoção do rival. Pertence a uma relação triangular e, portanto, a um período da vida em que os objetos são claramente reconhecidos e diferenciados uns dos outros. Exemplo: casal e sogra; o casal e um ex, de um deles; mãe e dois irmãos; professor e dois alunos, etc.
A inveja, por sua vez, é uma relação de duas partes, na qual o sujeito inveja o objeto por alguma posse ou qualidade; nenhum outro objeto vivo precisa entrar nessa relação. Exemplo: Tenho inveja do carro do patrão, grama do vizinho, inveja da televisão, potencial, saúde, celular do colega.
Vamos falar do conhecido, histórico e bíblico ciúme entre irmãos. O que mais ouvimos é: “Minha mãe só gosta do meu irmão, tudo é para ele, inclusive o melhor bife. Quando os irmãos chegam, ou mesmo quando uma criança sente-se ameaçada com a vinda de irmãos, o que está em jogo é a disputa pelo amor dos pais. A criança pequena, quando observa a sua mãe grávida, sente-se invadido por sentimentos desconfortáveis. Sentimentos de raiva, de menos valia e medo de perder o lugar já conquistado prevalecem. Com o passar do tempo, as elaborações pela perda do colo podem acontecer.
É importante salientar os aspectos regressivos, na criança que ganha, inesperadamente, um (a) irmãozinho (a). Os avanços nas fases de desenvolvimento viram fumaça. E resolvem virar “bebês” novamente. E assim, desejam pela chupeta, mamar no seio da mãe, enurese noturna, encoprese e pedem para usar fraldas. A chegada de novos rivais não aguça apenas a forte rivalidade infantil, aguça também a ambivalência entre o amor e o ódio, aumentando ainda mais o sofrimento daquele que se viu ameaçado pela perda do amor dos pais.
Por mais raiva que a criança sinta desse intruso-irmão, ela também o ama e também percebe que seus pais esperam dela um sentimento bom e de cuidado para com o recém-chegado. Fortes conflitos entre o amor e os impulsos agressivos levam ao sentimento de culpa e ao desejo de oferecer alguma compensação por um dano real ou imaginário. Na vida adulta, encontramos essa mistura de sentimentos, não apenas em relação aos nossos irmãos, também em nossas relações sociais e o desejo de compensar e reparar, presentificam-se.
Entre os casais, muitas vezes, o ciúme é tão forte, oculto ou indizível, podendo desencadear fúria, sendo as atuações, potencializadas. É necessário muito diálogo, expressão e cumplicidade. Muitos dos nossos comportamentos são moldados nos padrões infantis, originados de conflitos cristalizados e não elaborados em nosso universo interno. A criança se faz muito viva e presente no adulto, principalmente quando os sentimentos eram vividos de forma absoluta.