Levando em consideração as unidades de saúde públicas e privadas do DRS (Departamento Regional de Saúde) de Presidente Prudente, a taxa de ocupação nos leitos UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para o combate à Covid-19 divulgado ontem era de 96,5%, enquanto que os leitos de enfermaria apresentavam ocupação de 94,9%. Ao analisar isso, ver que o Estado se encontra em uma fase emergencial, ainda mais restritiva que a fase vermelha, e acompanhar junto às Prefeituras as filas de espera por vagas em hospitais e avanço cada vez mais acelerado da pandemia, não se pode negar que, sim, o oeste paulista enfrenta um colapso sanitário, a reflexo do que ocorre no Brasil.
Os números do Departamento Regional da Saúde informados na tarde de ontem, em relação aos hospitais com leitos públicos de Presidente Prudente, por exemplo, cidade que mais recebe pacientes da região, apontavam para uma ocupação de 100% de leitos na UTI Covid, enquanto que as unidades particulares apresentavam taxa de 94,45%. Ao todo, eram 137 pacientes adultos e dois pediátricos. Na enfermaria um cenário semelhante: 100% de ocupação de leitos no Hospital Regional e também na Santa Casa, enquanto os demais, particulares, encontravam-se com taxa de 94,75%, com 281 adultos internados e 10 pacientes pediátricos. Os dados foram divulgados ontem, com referência aos números do dia anterior.
Em coletiva de imprensa, o coordenador do Centro de Contingência do Covid-19 do Estado de São Paulo, Paulo Menezes, afirmou que a cada dia que vê os números relacionados à pandemia fica ainda mais triste, já que o Brasil, e em especial o Estado de São Paulo, tem perdido inúmeras vidas, e batendo recordes atrás de recordes. “A situação é dramática. Mesmo que tenhamos medidas ainda mais restritivas, como a fase emergencial, só iremos ver o resultado disso daqui alguns dias, então é preciso que todos colaborem”. Ao ser questionado sobre um eventual lockdown no Estado, Paulo afirmou que é preciso, primeiro, analisar os resultados dessa nova fase emergencial, para não tomar medidas precipitadas em relação à doença.
O infectologista André Pirajá afirmou que o colapso é uma falha no sistema, que não consegue dar vazão para atender as pessoas, e quando há uma sobrecarga para além do que os 100% de leitos disponíveis para atender a uma demanda, ou seja, o que se vive hoje. “Atualmente, temos muito mais do que 100% de leitos UTI ocupados, e isso mostra que já vivemos o colapso da saúde. Pode ser que no DRS ainda não tenhamos essa situação, ainda, mas no que diz respeito aos dados da cidade de Prudente, é possível dizer que sim há um colapso, e o DRS está à beira de chegar a esta situação”.
Além disso, o médico que atua na linha de frente afirmou que a qualquer momento a região pode bater o 100% de ocupação, o que é um risco muito grande para o sistema de saúde e para os moradores, já que não haveria leitos para cuidar de pessoas, o que faz com que quem estiver doente não consiga ser internado e atendido. “Ou seja, muitas pessoas vão morrer por falta de assistência. A palavra é caos, temos profissionais cansados, amedrontados e emocionalmente abalados. Somos treinados para salvar vidas, mas vemos pessoas morrendo por não termos como dar assistência”.
“Ou seja, muitas pessoas vão morrer por falta de assistência. A palavra é caos, temos profissionais cansados, amedrontados e emocionalmente abalados. Somos treinados para salvar vidas, mas vemos pessoas morrendo por não termos como dar assistência”.
Além da adaptação do AME (Ambulatório Médico de Especialidades) de Dracena como hospital de campanha, e a implantação de 10 novos leitos de UTI Covid e 10 de enfermaria no Hospital Regional de Presidente Prudente, o Estado firmou ontem que tem trabalhado exaustivamente pela criação de leitos junto aos municípios, que também têm autonomia para expandir sua rede. Já sobre a situação de dificuldade para realizar transferências de pacientes entre os municípios, veja o posicionamento no texto em que os municípios relatam suas experiências junto à pandemia.
Sistema de saúde na região enfrenta colapso sanitário
Em Osvaldo Cruz, a Prefeitura afirmou acreditar, sim, que a região vive um colapso, já que a cidade, por exemplo, está há uma semana com 100% dos 10 leitos de UTI Covid ocupados na Santa Casa. Para tentar reverter esse cenário, apontou ainda que foram adotados protocolos de saúde e segurança, com isolamento social, adoção de teletrabalho a setores não essenciais e restrição de acesso do público aos órgãos municipais, com exceção dos estabelecimentos de saúde e assistência social. “Na área de assistência social, os atendimentos são agendados por telefone e é feita uma triagem prévia sobre a necessidade de atendimento. Os demais setores estão com atendimentos suspensos”.
Além disso, a Prefeitura afirmou que intensificou o setor de fiscalização, em especial os de Vigilância Sanitária, Procon, Fiscalização Geral e Vigilância Epidemiológica, no enfrentamento há pandemia. Sobre o que mais preocupa a administração, respondeu que a crescente no número de casos, a falta de vagas em UTI Covid e ainda a falta de consciência, principalmente dos mais jovens, que não realizam o isolamento social e ainda insistirem em promover eventos clandestinos onde há aglomeração. “Hoje, no entanto, não há filas para internações”.
Pirapozinho também acredita que a região vive um colapso. Em nota, a Prefeitura afirmou que não tem mais para onde mandar os pacientes que estão aguardando vagas por meio do sistema de distribuição de vagas do Estado de São Paulo, por exemplo. “A Prefeitura tem adquirido novos equipamentos necessários para suprirem as demandas do Pronto Atendimento. As agências bancárias, pontos de ônibus e repartições públicas receberam trabalho de desinfecção para promover a segurança de servidores e usuários do nosso município”, afirmou sobre medidas que tem tomado.
Disse ainda que não deixou de orientar e conscientizar quanto aos cuidados necessários contra a Covid-19, e ressaltou, ontem, ter 10 pacientes que aguardavam por vagas em hospitais.
A prefeita de Presidente Epitácio, Cássia Furlan (PSDB), lembrou que a cidade não tem mais vagas disponíveis há vários dias, o que a faz acreditar no colapso regional. Além disso, apontou que, diante deste cenário e da dificuldade encontrada especialmente quando é preciso transferir pacientes para outras cidades, tem buscado aumentar o número de leitos no município. “Estamos já preparando mais leitos tanto enfermaria, que passarão de 10 para 18, quanto UTI. Porém, como os da UTI precisam de uma verba específica, já estamos em contato com o Estado para ver se conseguimos viabilizar”.
Em Presidente Prudente situação semelhante. Ao ser questionada sobre o caos na cidade, a Prefeitura afirmou que o sistema de saúde público e privado na região vive um momento de muita pressão, com índices de ocupação superiores a 90% tanto em leitos de UTI como de enfermaria, o que inclusive tem influenciado na lotação das UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) da cidade, onde ontem mais de 40 pessoas com Covid-19 aguardavam transferência para serviços especializados.
Sobre o que tem feito para driblar o cenário, lembrou que na semana passada o município inaugurou 15 leitos de suporte respiratório no Cohabão, para tentar desafogar a sobrecarga das UPAs, e oferecer uma estrutura mais adequada àqueles pacientes com sintomas moderados de Covid que aguardam transferências. “Também temos buscado junto ao governo estadual a abertura de novos leitos de UTI e também hospitais de campanha para a região. Paralelamente, temos realizado campanhas de alerta à população sobre o cenário extremamente crítico do sistema de saúde, além de intensificar a fiscalização para o combate às aglomerações clandestinas”.
Em relação aos apontamentos de cidade sobre a dificuldade em encontrar uma vaga para pacientes na região, o Estado de São Paulo afirmou que a demanda de transferências para casos de Covid-19 registrada na Cross (Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde) cresceu 117% em comparação ao pico da pandemia. Isso porque, atualmente são 1,5 mil pedidos por dia, contra 690 em junho de 2020, quando foi o auge da primeira onda. “Já houve mais de 180,3 mil regulações desde março do ano passado”.
Além disso, afirmou que a regulação depende da disponibilidade de leitos e de condição clínica adequada para que o paciente seja deslocado com segurança até o hospital de destino, e salientou que atualmente a rede de saúde está impactada com o aumento de casos e internações. “Hoje [ontem], 25,8 mil pessoas estão internadas por suspeita ou confirmação de Covid-19, sendo 11,1 mil em UTI e 14,7 em enfermaria”.
De acordo com o Estado, a Central funciona 24 horas por dia como mediadora entre os serviços de origem e de destino. Seu papel não é criar leitos, mas auxiliar na identificação de uma vaga no hospital mais próximo e apto a cuidar do caso. “Nenhuma negativa parte deste serviço, que é apenas intermediário. Cada solicitação é avaliada por médicos reguladores, sendo crucial a atualização do quadro clínico”. Afirmou ainda que os óbitos podem ocorrer em virtude de quadros clínicos graves e rápida evolução negativa, e apontou que é de responsabilidade do serviço de origem manter o paciente assistido e estável previamente de forma a apresentar condições de transferência, bem como providenciar transporte.