Crime nas escolas

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 09/04/2019
Horário 04:35

O ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez provocou a maior peripécia no MEC (Ministério da Educação e Cultura). Em menos de 80 dias, ocasionou quase 20 demissões de cargos de alto escalão, inclusive do presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pelas avaliações do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Ocasionou prejuízo aos brasileiros que pagam os encargos das demissões e sabe-se lá o preço imaterial. O MEC constitui o coração e a alma da educação do Brasil, dele depende a decolagem ou queda da nossa nação. Espera-se, portanto, que com o “começar de novo”, cesse definitivamente essa “odisseia”; e que se foque o que deve ser focado, pois o prejuízo para o país é incalculável.

A falência da educação pública do Brasil transpira no aumento do número de crimes, ora até de alunos. A tragédia na Escola Raul Brasil, em Suzano, poderia não ter ocorrido se a educação paulista fosse tratada na prática como são tratados os discursos. Os atiradores foram ex-alunos dessa mesma escola e declaram que queriam matar desafetos. Segundo a investigação, o ataque foi inspirado no massacre de Columbine, nos Estados Unidos, que terminou com 15 mortos - a meta dos atiradores seria superar esse número. Imagine, leitor, que o crime quase atingiu até escola da nossa pacata cidade. Uma diretora recebeu ameaça de morte de duas jovens de 14 e 18 anos, cujo ato foi organizado em aplicativo de celular. Elas “simplesmente” exigiam a retirada da diretora da escola. Onde chegamos? Sumiram das escolas os limites, a noção de que cada direito corresponde a um dever, o respeito à hierarquia, a formação ética e de caráter que deve ser o pano de fundo de todo o processo educativo.

O governador João Doria (PSDB) declarou que o Estado de São Paulo é líder na educação do Brasil. Dados comprovam que é uma inverdade. O resultado do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) 2017 mostra que em São Paulo a educação está mais ou menos na rabeira. Os primeiros em desempenho em 2017 foram Ceará, Pernambuco, Alagoas, Rondônia, Amazonas, Mato Grosso, Goiás. Inexplicável a queda no Estado mais rico da federação. Imagine ainda, leitor, que o Projeto sociocultural Guri, que atende todo território paulista com mais de 50 mil alunos, foi ameaçado de extinção pelo governo do Estado de São Paulo.

Com a reação ocorrida, espera-se João Doria entenda definitivamente que essa medida é no mínimo imprudente. Assim, enquanto São Paulo, que por décadas foi líder na educação de todo Brasil, hoje está tão ineficiente que poderá colocar em risco a própria economia. Se a educação continuar palco para angariar votos e servir de propaganda política, até onde afundaremos?

Para encerrar, um alerta: o Estado, a mídia, as escolas e toda sociedade devem agir para minimizar o estado de violência que está atingindo até crianças. Jogos de videogame violentos, exploração pela mídia de crimes insensibilizam e potencializam os que têm tendência para o crime. Em muitos jogos de videogame ganham pontos quem mais mata. As indústrias responsáveis pela criação e vendas desses jogos querem lucro, não se importando se potencializarão crimes. Isso também pode? Depoimentos de alunos de escolas que praticaram crimes relatam - foram despertados para o crime  pelos noticiários, séries e jogos que se fazem inspiradores. Ensinou Pitágoras no século 5 a.C.: “Educai as crianças e não terás que punir os homens.” Será que se aprende um dia?

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