Uma escola de Presidente Prudente lançou ontem um projeto relevante e inspirador. Trata-se do “Conte Comigo, Amigo”. Nele, os próprios estudantes participam de capacitações para aconselhar e tratar das dificuldades de seus colegas de uma forma agradável, saudável e segura, com respeito ao compromisso ético com os demais estudantes. O trabalho partiu das novas competências socioemocionais da instituição, algo inovador em termos de grade curricular e atividades acadêmicas.
Esse tipo de trabalho é necessário no mundo em que vivemos hoje, no qual jovens e adolescentes estão cada vez mais suscetíveis a problemas emocionais e psicológicos. Como noticiado na seção Mundo Jovem desta semana, dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) revelam que metade de todas as condições de saúde mental aparece aos 14 anos de idade, no entanto, a maioria dos casos não recebe diagnóstico ou tratamento. Mundialmente, a depressão é uma das principais responsáveis pela incapacidade entre adolescentes, sendo o suicídio a terceira maior causa de morte entre pessoas de 15 a 19 anos.
Por muito tempo os problemas dos adolescentes foram menosprezados e diminuídos, tratados como dilemas pequenos se comparados aos da vida adulta. A concepção de que o sofrimento do adolescente é menos “real” do que o das pessoas que se encontram em outros momentos e contextos da vida pode ser um gatilho para muitas patologias da mente. O que a maioria das pessoas desconhece, de modo geral, é que essa forma “exagerada” de encarar as dificuldades tem uma relação muito próxima com o próprio funcionamento do cérebro dos adolescentes, ainda subdesenvolvido, sem noção de algumas coisas que são extremamente básicas aos adultos, como a percepção de temporalidade.
Isso significa, basicamente, que muitos jovens simplesmente não conseguem entender que seus problemas vão “passar” inevitavelmente um dia. Eles acreditam que a forma como estão se sentindo no hoje permanecerá pra sempre. E se estão presos em quadros de depressão, falta de um “sentido” para a sua vida e ansiedade crônica, eles de fato enxergam essa “prisão emocional” como algo que os acompanhará por toda a existência.
É por conta disso que projetos como esse são muito relevantes não só em escolas, mas dentro de casa, conduzidos pelo diálogo com os próprios pais ou acompanhamento terapêutico nos casos em que houver necessidade. O cuidado com saúde emocional e mental na atualidade é tão urgente quanto a preocupação com a saúde física. Vivemos em uma época em que não há mais espaço na cultura para o distanciamento e a frieza entre pais e filhos. Nesta nova era, empatia, paciência e compaixão devem nutrir a relação entre os adultos e os mais jovens, gerando conexões mais profundas e horizontais.