De bola de ping-pong à bola de neve

Em nosso trabalho específico, em lidar com patologias do vazio, angústia, dor, psicossomática, transtornos diversos, manejos dos aspectos inconscientes e suas vicissitudes, observamos o quão é lento e demorado o “diagnóstico” sobre um possível desequilíbrio emocional que grita para ser ouvido e visto. Enquanto a “cegueira”, morosidade, “surdez”, certa indiferença e insensibilidade fazem-se presentes, o sujeito adoecido vira, metaforicamente, uma bola de ping-pong. 
Realiza-se em torno desse indivíduo desamparado, um jogo, aonde um vai jogando para o outro e de bola de ping-pong, torna-se, bola de neve. Cada qual com suas suspeitas e devaneios, calhamaço de exames, desistência, desesperança e encaminhamentos. Muitas vezes, a família fica exaurida e a pessoa poliqueixosa com a autoestima baixa, pois não há uma escuta especializada, que direciona para além dos órgãos. A pessoa ou o sujeito vira um rótulo estereotipado. Dói ali, dói aqui, será que é o estômago?
Segue a seguinte narrativa: Vamos investigar, então. Vale fazer endoscopia, ultrassom abdominal ou colonoscopia. Não, está tudo bem. Vamos fazer então, eletroencefalograma, ressonância magnética, alguns exames clínicos, e assim dá para entender melhor as suas queixas. Resultado: Você não tem nada. De A Z e nada. Vou te encaminhar para o cardiologista, que mexe com o “coração”? Ufah! Quase, chegando perto. Esquentando. Eletrocardiograma, ecocardiografia, esteira ergométrica, Holter, ressonância magnética e ultrassom. Não, está tudo bem. E o que dói mesmo? É o que o grande coração, metaforicamente, representa simbolicamente: a alma, emoção e o psiquismo que grita, inconscientemente, por libertação, continência, por uma escuta e visão binocular. 
“Por favor, liberta meus “bichos” aprisionados em mim mesmo”. E assim, quem usar as ferramentas chamadas intuição, empatia, bom senso, amor e um pouco de senso humanitário, encaminhará para os profissionais especializados em dor psíquica. Infelizmente, faz parte de nossa realidade, o preconceito em encaminhar para a psicologia clínica, psicanálise e psiquiatria. 
O trabalho de des-velar e revelar o que realmente está comprometendo toda a complexidade psíquica é valoroso e valioso. A prevenção primária é importante e estrutural. A doença é dispendiosa. “Deve haver a possibilidade de compreendermos mais profundamente a função essencial do psiquismo na regulação do equilíbrio psicossomático. Ele revela os processos pelos quais, a partir das experiências mais precoces do ser humano, se estrutura gradativamente, por meio da relação com o seu semelhante, um funcionamento complexo e integrado de funções psíquicas e corporais. Um funcionamento que pode ser perturbado ao longo da existência produzindo, segundo os recursos do indivíduo, manifestações psíquicas ou somáticas, normais ou patológicas”. (Rubens Marcelo Volich-2000)
 

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