Gastronomia em tempos de isolamento

OPINIÃO - Ulisses Dias

Data 17/04/2020
Horário 04:08

Que a alimentação é a base fundamental para nossa sobrevivência, isto ninguém discute, nem tão pouco as possibilidades e escolhas de cada indivíduo na implementação de dietas, variações ou mesmo em conviver com a diminuição de opções.

Quando criança, eu ouvia minha mãe que no período da Segunda Guerra Mundial, as dificuldades que passavam com o racionamento eram muitas: sal, açúcar, carne, farinha de trigo, querosene para o lampião e tantos outros itens que eram racionados e controlados. Momentos difíceis e de compartilhamento.

Sempre comento com meus alunos de Gastronomia que depois destes tempos, as gerações, ao que me incluo, não vivem tempos difíceis de racionamento e de forma contraposta, em geral, os pais sempre pensam em dar aos filhos o que não tiveram ou “pouco tiveram”. Contudo, formamos uma geração de adolescentes e crianças que não comem miúdos de animais, pescoço e pés de frango, vegetais do campo, produtos simples, etc. Nada afinal, que não tenha carne em quantidade, fastfood, junkfood e bom apelo visual.

Mas qual é a relação deste relato com o momento que vivemos, de isolamento social, pela Covid-19? Bem, tudo!

Temos visto famílias reunidas em torno da mesa, mobiliário este, diga-se de passagem, esquecido em boa parte dos lares. Mesa com família a sua volta é comum somente em cenas de novela e sabemos que é um recurso excelente que diretores possuem para pautar enredos televisivos.

Atualmente, postagens de cafés da manhã, almoços, jantares em família têm sido comum. Postagens de pessoas cozinhando, fazendo o básico, arriscando nas panelas e fogões têm sido frequentes e muito tenho ouvido que cozinhar tem sido uma “terapia” e por fim, que cozinhar tem aproximado famílias, junto à mesa.

Não podemos desconsiderar que as famílias, neste momento, têm passado por necessidades e restrição às refeições dignas. As ações humanitárias e doações devem fazer parte da prática social em nosso bairro e cidade. Cuidar dos que estão próximos é prioridade, alimentar alguém é imperativo.

A gastronomia e a alimentação mudam hábitos, mudam a consciência de mundo, pessoas, povos e nos despertam o altruísmo, a sensibilidade, as nossas origens e nosso bem maior: a família.

Certa vez, ouvi um exemplo de um palito de fósforo que pode ser facilmente quebrado, porém, se colocarmos todos na caixinha, como um feixe, ficará quase impossível quebrarmos com as mãos. Sejamos unidos, em família e sociedade, nestes momentos difíceis.  

 

Publicidade

Veja também