Garrafas quebradas, latas amassadas, copos de plástico, cinzas e bitucas de cigarros consistem no rastro deixado pelos adolescentes que participam do "rolezinho" em Presidente Prudente, que "religiosamente" ocorre toda sexta-feira à noite. Eles podem até trocar o rolê de lugar, mas as reclamações de sujeira e tumulto perseguem a aglomeração de jovens, onde quer que estejam.
O local onde surgiu o "encontrão" dos adolescentes periféricos foi o Parque do Povo, no ponto próximo aos bares da Avenida 14 de Setembro. A Polícia Militar pressionou e o ponto foi alterado para a Rua Bertioga, em Presidente Prudente, ao lado do estacionamento do Prudenshopping. Novamente, em fevereiro, uma grande batida da PM abordou 109 pessoas, sendo 28 maiores de 18 anos e o restante adolescentes. Foi aí que a aglomeração começou a retornar ao Parque do Povo, mas na Avenida 11 de Maio, no ponto onde ficam os quiosques da Prefeitura, alugados por comerciantes por meio de licitação.
MPE quer verificar se comércios atraem aglomeração de jovens
As denúncias e reclamações levaram o MPE (Ministério Público Estadual) a instaurar um inquérito civil para apurar as circunstâncias que envolvem a exploração e funcionamento dos quiosques. O intuito do órgão é investigar se os comércios são fiscalizados pelo poder público; vendem produtos não compatíveis com o alvará fornecido, como bebidas alcoólicas, sobretudo a menores de 18 anos; e, por fim, se funcionam além do horário permitido, atraindo a aglomeração de jovens, resultando em poluição ambiental e sonora.
O promotor de Justiça do Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo, André Luis Felício, divulgou ainda na página oficial do órgão, que busca aproveitar o procedimento para saber se os comerciantes cumprem os demais requisitos, como pagamento do aluguel do imóvel, taxas, tributos e impostos, bem como analisar a limpeza do local e a higiene alimentar dos quiosques. O MPE já acionou a Sefin (Secretaria Municipal de Finanças) para obter essas informações a respeito da regularidade financeira dos quiosques, e anunciou que solicitará à Vigilância Sanitária a verificação dos negócios.
Do luxo ao lixo
O que no começo parecia fonte de lucro aos estabelecimentos, agora tem gerado transtornos diante da depredação dos imóveis, tentativas de arrombamento e confusões entre os jovens. Quem na primeira sexta-feira de aglomeração estendeu o funcionamento até às 5h, agora está fechando assim que começam a formar os primeiros "grupinhos", com receio de confusão.
"Eu até pensei que daria para lucrar bem, fiquei fazendo lanche até de madrugada, mas depois começou a ficar muito aglomerado, com gente fazendo coisa errada, muitas brigas e confusão", relata o comerciante autônomo Luiz Toledo, 18 anos, que é responsável por um dos quiosques do Parque do Povo. Os jovens já conseguiram danificar o toldo e a estrutura de concreto de um dos estabelecimentos, além de tentarem arrombar as portas e, ao não conseguir, "emperrarem" cadeados com palitos de dente, para prejudicar os donos.
"O pior é que no começo achavam ainda que nós estávamos sustentando esses jovens, mas não vendemos bebidas alcoólicas a eles, que já trazem tudo em caixas térmicas", é o que esclarece outro locatário de um quiosque, o empresário Renato Pereira. Por conta da "muvuca" de adolescentes, todos estão encerrando o expediente mais cedo que o usual, às 23h, conforme ele, por orientação da Sedepp (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico).
Procurada para abordar a situação, a Prefeitura se limitou a informar que "ainda não foi notificada sobre o inquérito civil da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo".